“Bonequinha de Luxo” (Breakfast at Tiffany‘s)

“Bonequinha de Luxo” (Breakfast at Tiffany‘s)

 




Audrey Hepburn desfilou nessa esfera para os mortais motivada por duas missões. Uma, a de fazer hora extra por aqui.

 

A heroína de Truman Capote vai muito além do que desde ontem o establishment chamaria de vadia (a marcha das vadias aconteceu oficialmente num sábado qualquer, semanas atrás).

 

Em 1961 Blake Edwards dirigiu e Henry Mancini faturou a trilha nesta película de 115 minutos em Technicolor e só a cena de abertura, com Audrey espiando uma vitrine, nos leva a pensar que raio de equipamento os caras estão usando hoje em dia, que por mais que façam as coisas se moverem na tela elas não chegam aos pés do mesmo encanto imagético aqui apresentado.

 

A estrada é curta em “Breakfast...”, o texto de Capote tem tutano e ainda oferece pasto para o pensar, Hepburn deslumbra do primeiro ao derradeiro take e o pensar ainda cogita como é possível essa beleza manter-se imbatível ao longo de meio século de zilhões de belezas expostas em telas e capas de revista.

 

“Bonequinha...”, título mais assassino do que uma mamona, induz de cara a alhos e bugalhos, quando em essência Capote criou uma moça que aos 14 anos roubava ovos de uma fazenda, foi pedida em casamento pelo fazendeiro e de cara lhe deu a seguinte resposta: “claro, por que não? Afinal eu nunca casei...”. Esse arranjo foi anulado e ela migrou para NY. PT saudações... Com alguma chance o ser humano se reinventa.

 

A fotografia de Franz Planer enverniza a Big Apple, Audrey é vizinha de George Peppard, que faz um escritor vivendo de benfeitorias extraconjugais, a vida flui praticamente numa Dolce Vita feliniana, mas não se iludam, apesar da boemia e das filosofias de botequim, Audrey permance como mais uma moça em fuga. Quando o ex-marido bate na sua porta, para tê-la de volta, Capote põe na boca da heroína um argumento irrefutável: Não se pode amar criaturas selvagens. Elas se fortalecem com esse amor e depois vão embora, ou para o local mais ermo da floresta ou para a mais alta das árvores.

 

Deixando de lado o rótulo de drama romântico, “Breakfast...” é um colírio nota 1.000, Audrey esbanja a atriz na fértil personagem de Capote, vide, entre outras, a cena dela cantando “Moon River” ao violão. Tem-se a impressão de que todo o seu ser expressa para a câmera: não sou deste mundo. Vim apenas para dizer como são as coisas em patamares mais elevados.

 

 

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 21/06/2011
Reeditado em 25/10/2021
Código do texto: T3048675
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