“Um Homem de Família” (Family Man)

“Um Homem de Família” (Family Man)

Alegre-se, é natal. Nicolas Cage e Téa Leoni vão te contar uma certa história e a turma da matéria vai descobrir que onde se supunha inexistir matéria, existe mais do que se pensa.

Se lançado hoje levava alguma estatueta, nem que fosse de melhor roteiro à 4 mãos (David Diamond&David Weisman) e olhe que fotografia e música não devem um tostão à ninguém.

O mundo gira na terra da consciência em movimento e o protagonista ainda desconhece a questão da matéria, mas de antemão ele tem a resposta.

Nicolas Cage é arrastado para a experiência, chamada de Amostra, com toda a sua consciência presente. Na véspera de natal ele vai dormir na sua luxuosa cobertura em Manhattan e acorda num sobrado de periferia, ao lado de uma mulher e duas crianças. O roteiro profético da dupla de Davids preconizou, em 2000, o estado das percepções em 2010.

- Cadê minha Ferrari? – indaga Cage.

A experiência proposta pelo carisma de Don Cheadle é pautada na velha fórmula de: como teria sido a minha vida, se eu tivesse ido por aquele caminho?

O filme abre com a beldade Téa Leoni dizendo para Cage, 13 anos antes:

- Quer fazer uma coisa grandiosa? Esqueça o futuro e vamos começar a nossa vida agora, juntos.

Elizabeth Téa Pantaleoni nasceu em NY, no ano de 1966, tem uma penca de filmes no currículo, incluindo Jurassic Park III, Impacto Profundo, Espanglês, Os Bad Boys, etc., e sua capacidade de reunir na mesma personalidade aquela que topou o jogo de duas crianças&sacrifícios&praticidade, lança no sonho de Cage um perfume tão forte que jogará por terra todas as suas defesas e supostas aspirações.

Brett Ratner dirige com acerto e o roteiro é de uma malandragem soberba, pois todos os buracos são tapados através de pequenas situações que, somadas, dão ao herói a chance de se ambientar, tripudiar, se surpreender, se adaptar, para, enfim, agir com afeto e cuidado dentro da célula chamada família. Quando isso acontece, Don Cheadle ressurge e Cage percebe que o sonho vai terminar. Ele volta para a Ferrari e o cargo de presidente de um grande banco de investimentos. O vazio que ele sente é transmissível. Mais um ponto para o diretor Brett Ratner.

Na dimensão da abertura, Cage acorda rugindo uma ópera e indo de encontro aos seus pares, sua vitoriosa rotina, alardeando que neste dia o espírito de natal veio para trabalhar e enriquecer e ai de quem não se afinar nessa cadência. Sua secretária lhe diz que fulana de tal telefonou. Ele não dá importância. O que quer essa mulher, 13 anos depois? Seu mentor avisa que velhos amores devem ficar no passado. Provavelmente ela está nostálgica. Nicolas ainda não havia encontrado com o bruxo Cheadle. Em seu mundo ainda inexistiam amigos que jogam boliche e trocam confidências, vizinhos solidários, crianças para levar e buscar e uma mulher cujo espírito de conciliação talvez respire somente no universo cinematográfico de metirinha. Talvez, mas não deixa de ser uma proposta.

Entra em cena o único chavão permissível: eu só cresço na medida em que eu percebo. Via de regra, seres humanos só despertam através de sucessivas cacetadas, quando despertam. Na véspera de natal, Nicolas ganhou de presente um portal.

Termina com os dois conversando, passagem absoluta da inter-relação duradoura entre as criaturas, pelo menos até o dia em que se comuniquem por imagens, algo bem mais difícil de mascarar.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 21/12/2010
Reeditado em 22/08/2012
Código do texto: T2684274
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.