"O Reino" (The Kingdon)

"O Reino" (The Kingdon)

- Um homem que mata crianças, mulheres, velhos e moços, e vai para casa e dorme, é muito dificil de ser encontrado.

- Como você sabe que ele dorme?

- Porque ele ainda não parou. A pessoa só pára quando começa a ver os rostos dos mortos no seu quarto, toda noite.

Mais ou menos esse é um dos diálogos neste thriller que a “caixinha”, supunha eu, havia errado de novo. A princípio, a “caixinha” vende pancadaria, ao passo que “O Reino”, nos 60 minutos iniciais, vende reflexão.

O diálogo acima lembra, e muito, uma reportagem da Veja sobre uma das manchas negras da nossa história, ocorrida num presídio de São Paulo, em 92. Não gosto nem de falar o nome. Na reportagem de Veja, tem a declaração de um dos que deram bandeirada da largada, para o que se tornou uma chacina. Ele disse que convivia com os mortos.

Viciado em cinema já aprendeu uma coisa: que a nova safra de atores róliudianos não entra em qualquer presepada. Jamie Foxx é um deles.

Viciado em cinema não topa qualquer filme de ação, porque já descobriu que isso não é tarefa para qualquer um. Digo, fazer um filme de ação. Acho que o Tom Cruise enlouqueceu com o negócio das impossíveis missões.

Lembro de uma madrugada, há 2 anos atrás, com os dois melhores dementes que já conheci, meu filho e meu enteado, entabulando uma ilustrada conversa. Tínhamos acabado de assistir “Colateral”, com a dupla Cruise e Foxx. Daí fizemos uma enquete, madrugada `a dentro, sobre quem era o maior Sódão dos filmes de ação de então.

Sódão em termos de personagem. Personagem plausível no contexto luz-camera-ação. Ou seja, não vale o cara sair voando, ou ter um revólver cujo número de balas é superior ao de peixinhos no oceano, por aí a fora, porque dementes, quando fazem enquetes, o negócio fica sério e, pra, encurtar, o demente mor e os dois aspirantes `a demência concluíram unanimemente, ser o maior Sódão, `aquela altura do campeonato, o personagem de Tom Cruise no “Colateral”. Um gajo que, decididamente, você não ia querer encontrar nem numa noite escura nem num dia claro.

Jamie Foxx, no Reino, ainda que sob outro prisma, pretende o trono do Sodão. E “O Reino”, descontando a arrogância do Grande Irmão em ensinar aos outros como se faz, infelizmente alega que uma coisa ele faz bem: investigar a cena do crime. Mas não foi isso que encantou o Tarantino, levando-o a dirigir 2 episódios do CSI Vegas? Seriado de TV `a parte, o conceito por trás da coisa é luz no fim do túnel. É o conceito do oftalmologista Conan Doyle, ao criar o detetive de ficção mais autêntico do planeta, (fizeram até uma casa para ele), Sherlock Holmes, que prefere usar a cabeça do que moer os suspeitos de pancada para arrancar-lhes uma confissão. Um século depois a cultura policial cria de fato o Crime Scene Investigation, que pode até ter virado seriado, mas enquanto atitude é altamente positiva, e que o diga a investigação do caso Isabela, que a toda hora proclama: só sei que nada sei.

“O Reino”, enquanto argumento, não deixa barato. Jamie Foxx, que depois do “Ray”, por mim o cara podia ser canonizado, chefia uma investigação criminal, onde ele, junto com uma pequena equipe, se mandam para a Arábia Saudita para tentar desvendar um ataque terrorista. Se considerar que a Arábia Saudita é dona de 15 por cento da América, se considerar que quem produziu a película tá careca de saber disso, graças ou não à missão do Michael Moore, em termos de argumento dá até pra dizer, taí um filmão, de ação. Traduzindo, 15 por cento da América tem seu vulto, não é o mesmo que ter 15 por cento da rede de botecos Pé Pra Fora. Então, no Reino, é dever ou não do espectador apreciar a película com esses parâmetros.

O resto é cinema, desse naipe, só que, 2 capítulos (porque DVD tem capítulos), após o diálogo mencionado, Sodeu. Muito tiro pro meu gosto. Dá a impressão de se estar assistindo o BOPE, só que no Reino eles usam turbante. Mas, pra quem gosta de filme de ação e não engole Van Damme e Chuck Norris, dá pro gasto. Palavra que, até o ponto x, o filme tava indo de vento em popa. Depois virou proa.

Direção: Peter Berg (dirigiu 3 filmes antes desse, mas acho que não foram laçados aqui. Acho. Também faz às vezes de roteirista e ator, tendo trabalhado no “Leões e Cordeiros” como ator).

Coadjuvantes especiais: Chris Cooper (“Capote”, “Supremacia Bourne”), e Jennifer Garner (“Pearl Harbour”).

The End.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 04/06/2008
Reeditado em 13/10/2013
Código do texto: T1019754
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