E o que é que falta fazer mais (Dedicação)

E o que é que falta fazer mais?

Se o meu sertão costuma ser o meu universo, o meu mundo, a lástima mais preciosa de todos os cantadores somados aos infinitos que articulam as serenatas de definir a poesia como o 'fogo que engole a calma'.

Mas a alma que exalta o fogo em noites de luar tempera a cor do regionalismo poético compondo os quatro elementos no buscar da forma do caju, do contorno das salinas, da revolução de tantos mares e da inspiração de tantas luas.

E certamente que ao ‘pousar no divã’ de tantos sonhos o olhar se perderá nas terras tamanhas que trarão as manhas de perceber que o sol que brota ali explode todas as vidas que necessitam da luz. Pois a sede de tocar as cores com meus olhos entregam a emoção em observar as manhãs da mais pura bonança que renasce novamente todos os dias quando o sol explode no horizonte e nas gargantas de tantos galos.

Entretanto, ao falar das manhãs sabemos que o dia corre e que o calor do fogo exala as chamas por toda a terra e por todo o branco fulminante das salinas. Os boiadeiros seguem o seu rumo na véspera de silenciar o canto que entoa a morte porque os punhais de muitos guerreiros de botas foram lançados para que a paz floresça no coração da luta sagrada. O universo da cantoria chegou para dominar a história falsa, a realidade inversa e a santidade submissa que impera sobre tantos marianos, tantos homens, tantos sertanejos que possuem nome, cor ou fé.

Mas a certeza dos turnos que serviu de tempo para tantas histórias e que correu observando o cangaço para a vitória de democratizar a partilha da fartura passada, morreu nas páginas rasgadas das lendas daquele país que está no interior do mais alto elefante, pois apagar a memória de um povo é como afogar o vento perante os cabelos que se perdem nos pulos de muitos golpes.

O meu universo contou com a fome, com a grandeza da simplicidade e com a força da ingenuidade da dor, porque a bomba que explode sob os corpos de outros povos encarna na obediência de indagar o basta das sombras que encarnam também nas peles castigadas pelo sol impetuoso que se chama fome.

Como se a fome pudesse ser transformada na alegria sertaneja de celebrar mais uma tarde que se vai e que trará a lua romântica como alimento para o amor que jamais secará a carne de mais um adeus desejosos de mais um até breve, porque quem parte e deixa no outro olhar o resquício da metade só saberá que o complemento do eixo Assu-Açu consiste em desistir da fuga, da ausência e da possibilidade de indagar do encontro impossível nos is dos adjetivos do rio Potengi.

E na piscina que traz o leito do leite na forma do frescor, o açúcar salienta o pão da fé que promete chover nos horizontes das serenatas que um dia quando a lua surgiu no sono de minha rede, eu pude lembrar que o mel daqueles cajus irradiou o meu sangue e fez o meu luar morrer na saliência do meu silêncio porque quem chora na saudade desse sertão sabe que na lembrança e na esperança, o Caicó Arcaico que fica na estrada de mais um Acari, inspira a necessidade de possuir a sina de compor a fortaleza da cantoria e vestir os lençóis como véus da poesia. Porque quando eu me vejo na altura de meu interior, o esquecimento chega para tocar os sentimentos que regam o caminho da esperança no fragmento dos pedaços de permanecer tão longe e ao mesmo tempo tão perto do seu começo, do tanto que um dia foi quanto e do quanto que um dia ficou para sempre no meu canto.

Cintia Gus
Enviado por Cintia Gus em 02/08/2007
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