Amigo das Onças...

Ano passado recebi um convite para participar dum grupo, chamado de Grupo de Amigos, ou, Entre Amigos, com proposta, a principio, de não só promover a confraternização entre pessoas de amizade mútua já estabelecidas há tempo mas que vinham se distanciando - talvez pela correria do dia-a-dia -, mas também de proporcionar a todos, aí se referindo aos amigos dos amigos com quem não se tinha qualquer relação, o estabelecimento duma nova amizade a cada evento. Consolidando-se aí a proposta ‘principal’, de crescimento, de ampliação das relações entre os cidadãos que vivem na mesma cidade. Coisa de gente madura. Ao que fui muito solícito, e participativo. Muito participativo, posto que fui “nomeado” vice-presidente, cargo que, ao perceber o primeiro sinal de equívoco passei para outro membro. E segui como mero mortal na proposta. Mas segui.

Nos encontros, que acontecem sempre na casa de algum dos componentes – como na minha em várias e várias ocasiões - e não em lugares públicos, fala-se sobre tudo: política, gastronomia, humor (este sempre a comandar os eventos), sexo (e aí até sobre as variáveis todas que o envolve, e da sua importância para a sobrevivência das relações maritais), valor da amizade, música, futebol, comportamento conjugal, reconhecimento do valor de cada parceiro para com seu cônjuge, sentido da vida, economia, empreendedorismo, entre tantos outros temas agregadores. Só não tem, ou pelo menos não havia lugar para hipocrisia. Muito menos para falsidade. Como já disse, coisa de gente grande.

Aqui gostaria de dizer do tamanho da minha satisfação com o sucesso da iniciativa – diante da envergadura do projeto. Mas não posso. Haja vista que o meu despontamento de agora decerto ocorrerá com outros que, como eu e que não façam parte do equívoco praticado por alguns a meu respeito, sobre o que narrarei logo abaixo, e que acabo de tomar conhecimento por terceiros - de fora, também, sentindo o que sinto, ou por vir a ser a próxima vítima ou presenciar a ocorrência com outra pessoa, se desligarão. Ou, quem sabe, se limitarão a evitar a presença nas confraternizações. Mas que não farão mais parte diante da sentida ausência de franqueza entre componentes.

Há no grupo, do trabalhador mais simples a empresários bem sucedidos. Muitos podem muito, outros quase nada. Mas todos se tratando como iguais que são – até a hora duma festa. Há aniversariante quase todo dia. Todo dia não se pode comprar presente. Há os que não se importam se não levam, mas há os que sofrem diante do luxo do presente dado por uns (e aqui eu contribuía para isso, ainda que tenha percebido a tempo e tentado mudar a política de forma subjetiva e inocente, sem que fosse compreendido, principalmente na inocência, e por isto aqui estou).

Uma amiga, aqui dando uma pausa, certa vez, lá pelos idos de 2008/2009, me presenteou com um objeto que ela denominou de Abridor de Garrafa – e o é. Era um pedaço de madeira em forma dum pênis, com um parafuso na outra extremidade (o abridor), tendo uma frase que sugeria, numa brincadeira, claro, que em caso de emergência retire o parafuso. Não era meu aniversário. Ela só queria me zoar por eu ser tetraplégico e ela brincar que por isso eu não tinha vida sexual. O que ela sabia ser o contrário já que vive na minha casa e com quem conversamos muito – Tome que é pra te socorrer caso não dê conta. Disse me entregado e desatando numa gargalhada. Ri junto com todos – éramos um pequeno grupo - e, naturalmente, agradeci dizendo que amigo é pra essas coisas (sacanear os amigos). Mas jamais me ofendi, nem a brincadeira ofendeu ninguém alí . Coisa de gente grande.

Saindo da pausa, volto para dizer que no último encontro do grupo, mais de um ano depois, e depois de tantos exêmplos do meu respeito por todos, numa festa de aniversário duma das componentes - ela uma quarentona, mulher com ême maiúsculo por vários aspectos, desde a seara de gênero à disposição para o trabalho, e muito bem humorada, logo sem nenhuma dificuldade de se resolver no campo conjugal ou sexual a hora que quiser -, eu, lembrando da questão desconcertante da troca de presentes a cada aniversário, que cito acima, querendo aproveitar o ensejo para desestitucionalizar a obrigação, e lembrando da brincadeira da minha antiga amiga com o tal abridor, quis - atitude infelizmente confundida por alguns como falta de respeito a ela -, provocar umas gargalhadas entre a turma. E, lá ao longe da mensagem que queria passar, nada além disto, lhe dei o abridor como presente.

Mas, sabendo da presença de crianças, lhe pedi que não abrisse na hora – se isto não foi observado, dado ao ânimo alcoólico, só tenho a lamentar -, e sim noutro momento. O que foi feito apenas diante de alguns poucos adultos, homens e mulheres, já madrugada, depois de quase todos na festa terem ido embora.

Dizendo que ali, antes, à contemplá-la tão alegre e sabendo da sua difícil trajetória de vida principalmente quando ainda casada, com um vizinho meu de infância, preciso registrar que, ao parabenizá-la pelo aniversário e pela linda festa com presença de tantos amigos, ela que fora menosprezada pelo então companheiro de tantos anos, e tendo chegado onde tem chegado, lhe abracei dizendo ao seu ouvido que ali faltava uma pessoa: justamente seu ex-marido, para que visse o quanto se enganara a respeito do seu potencial. Coisa de gente grande.

Jamais imaginei que a brincadeira que estava por fazer fosse causar tanto desconforto, não sei se na aniversariante ou em outros dos presentes na mesa. E que superasse o verdadeiro sentimento, de respeito, e admiração, que nutro por sua pessoa. Que bato o pé dizendo duvidar que se juntado todos os que têm, pelas minhas costas, difundido suas mesquinhas conclusões, serem capazes de sentir.

Mas na verdade, antes de comunicar o meu desapontamento e desligamento, quero mesmo é me desculpar, de público, com aqueles a quem, tentando provocar um riso acabei ofendendo. Seja os lá presentes que tem comentado negativamente o episódio, seja os que tenham tomado conhecimento e me condenado juntamente com outros sem que me procurem para reclamar sua insatisfação.

- Não à toa a frase, de minha autoria: Na festa de aniversário dum sujeito, comparece amigos e inimigos, e ele, como bom e perfeito idiota, à todos sorri - Ou seria na mesa dum convidado?!

Aos que lê, o que, decerto, serão muitos outros que não participam deste grupo mas congregam aqui no Recanto (meu cantinho do desabafo), que, quem sabe, inocentes, ofendem seus amigos, seja com brincadeiras como a que fiz seja com comentários equivocados e inconvenientes acerca duma coisa, ou pessoa, que reflita antes de avançar o pé, ou abrir a boca.

Agora com licença, preciso trabalhar!
Antonio Franco Nogueira
Enviado por Antonio Franco Nogueira em 05/08/2013
Reeditado em 17/09/2013
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