Guerra de Canudos

CANUDOS

Para os oficiais positivistas e os políticos republicanos, aquela tinha sido uma lutada civilização contra a barbárie. Na verdade, havia “barbárie” em ambos os lados e mais entre aqueles homens instruídos que tinham sido incapazes de pelo menos tênar entender a gente sertaneja. (FAUSTO p.258)

O filme Guerra de Canudos do diretor Sérgio Rezende, retrata a história do Arraial de Canudos, mais conhecida como Canudos, uma comunidade fundada no norte do sertão da Bahia, ás margens do Rio Vaza-Barris, seu protagonista é Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antonio Conselheiro. Antônio Conselheiro era filho de comerciantes, seu pai queria que se tornasse padre, mas antes de se converter em um líder religioso, Conselheiro foi professor e vendedor ambulante. Segundo o historiador Boris Fausto, ele era um misto de sacerdote e chefe de jagunços.

No filme, Antônio conselheiro é representado pelo ator José Wilker como uma pessoa que acreditava plenamente no que vivia e, persuadia os sertanejos com a promessa de vida após a morte, porém, os seguidores de Conselheiro eram famílias que tinham perdido tudo e estavam à mercê da sorte e vítima de explorações por parte do governo republicano. O filme se inicia com Zé Lucena (Paulo Betti), e sua família sendo explorados por representantes do governo republicano que cobravam impostos, tempos depois aparece a figura de Conselheiro (José Wilker) com uma pregação de esperança, esperança essa que as famílias sertanejas já não tinham devido as secas, e exploração de grandes latifundiários que faziam política com interesse próprio e, não pensando no bem coletivo.

Esses camponeses sem muita alternativa seguiam Conselheiro incondicionalmente, acreditando ser a vontade divina que os estava guiando e, que independentemente do que acontecesse, a vontade de Deus deveria ser cumprida, mesmo que para isso tivessem que matar ou morrer. Daí o rótulo de chefe de jagunços que o beato levava (pois o arraial era composto por uma guarda chamada Guarda Católica). Porém a fé cega não ocupava a mente de todos os habitantes do arraial, dois exemplos são: um comerciante que ao ver as derrotas sucessivas depois de meses de lutas pede ao beato que o deixe se retirar com sua família, pois confessa que apesar de haver seguido o movimento, nunca acreditou religiosamente, o beato o libera sem nenhuma resistência, e o de Penha (Marieta Severo), esposa de Zé Lucena que confessa quase ao final do filme que não acreditava em conselheiro, e que o havia seguido em respeito ao marido.

Crenças à parte, fato é que o local em pouco tempo se torna um povoado habitado por cerca de 20 a 30 mil pessoas, desde a sua fundação em 1893 até sua extinção em 1897, isso começa a incomodar os latifundiários que veem um verdadeiro abandono de trabalhadores, trazendo uma escassez na mão de obra local, e como podemos ver no texto de Victor Nunes Leal, Coronelismo, Enxada e voto, apenas uma pequena parcela da população obtinha terra e havia uma farta mão de obra devido à necessidade de muitas famílias que nada tinham além de sua força de trabalho, no texto o autor relata que não eram todos os proprietários que tinham total poder, e que alguns mesmo não tendo opulência levavam uma vida melhor do que os sertanejos. Através do texto podemos ter uma noção do transtorno que o arraial causou na região, (embora o texto não se refira especificamente ao sertão da Bahia)

Antônio Conselheiro era monarquista e, acusava a república de ser criada por ateus e maçons que queriam deturpar os mandamentos de Deus, entre os principais fatores ele enfatizava o casamento civil, que segundo ele, era uma aberração aos mandamentos divinos, mas apesar de toda essa defesa da fé cristã, esse movimento não era bem visto pela Igreja Católica, porém os que mais se incomodaram foram os políticos e os latifundiários, defendendo interesses meramente políticos e financeiros.

Para os detentores do poder, o incômodo estava se tornando insuportável, foi quando o governador da Bahia decidiu intervir militarmente, porém suas tropas foram derrotadas, foi então que se apelou para as tropas federais, duas expedições fortemente armadas não conseguiram desvencilhar o arraial. Somente em agosto de 1897 o general Artur Oscar conseguiu destruir a comunidade, com uma tropa de oito mil homens e equipamentos modernos, segundo Boris Fausto, mesmo assim houve um mês e meio de luta intensa. Os que não foram mortos foram feitos prisioneiros e degolados.

No filme, Antônio Conselheiro comete suicídio ao perceber a derrota iminente, apenas Zé Lucena, alguns homens e um garoto lutam até o final, Penha morre degolada diante de sua filha Luiza (Cláudia Abreu), que desde o início se recusa a seguir Antônio conselheiro e torna-se prostituta a serviço de um barão local, depois casa-se com um soldado, com a morte do mesmo no conflito volta a tornar-se prostituta. Ao final do filme ela entra em Canudos já devastada pela guerra à procura de seus parentes, eles se recusam a segui-la, ela volta, e é quando ocorre o relatado acima da morte de Penha.

Referências bibliográficas:

LEAL,Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto – Município e o Regime Representativo no Brasil. 1949 - Capa da 1ª edição, desenho de Santa Rosa.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. Ed. Edusp – 2ªed São Paulo 1995.

CANUDOS, Guerra de.Diretor Sergio Resende (Lamarca)

ronaldo moraes
Enviado por ronaldo moraes em 10/11/2012
Reeditado em 24/11/2012
Código do texto: T3978354
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