Novos Horizontes... O que será?

(Texto com base na música dos “Engenheiros do Hawaii: Novos Horizontes”)

Por diversas vezes ouvi pessoas dizerem: “ah, cansei de tudo, preciso respirar novos ares!”, “Ah estou em busca de novos horizontes”; acredito que isso é comum a todos nós, seres completamente confusos, incompletos, que enjoa muito rápido das coisas, não digo todos, mas acredito que a grande maioria das pessoas já disse isso ao menos uma vez em algum momento da sua finita vida. Inclusive não apenas uma vez dissemos que precisamos respirar novos ares, mas por diversas vezes nos vemos diante desse dilema infernal de não agüentar mais respirar o “ar” comum de onde estamos inseridos.

Eu diria que quando nos vemos assim, a melhor coisa a se fazer é sentar num banco qualquer e ficar sozinho e se perguntar: o que seria respirar novos ares? Onde eu posso encontrar “novos horizontes”? Certamente se assim o fizermos veremos o quanto somos obscuros, e sabemos pouco do que almejamos, e que dificilmente sabemos o que queremos de fato. Quando tentamos responder a nós mesmos o que almejamos com os “novos ares”, com os “novos horizontes”, percebemos o quanto somos artificiais.

“Corpos em movimento, universo em expansão.”

Muitas vezes estamos vivendo tranquilamente a nossa vida, dentro do nosso “apartamento” que mesmo aparentando ser pequeno temos o suficiente para vivermos bem, dentro dele temos a alegria que os de fora almejam, temos o alimento necessário, os móveis necessários, enfim, temos o básico para suprir as nossas necessidades, porém, fora do nosso apartamento existem os desejos que são imensuráveis, que estão famintos por corações vazios que não se contentam com aquilo que aparentemente é insuficiente. E o desejo é um imã incomensurável de novos desejos, um universo em expansão.

“O apartamento que era tão pequeno, não acaba mais.”

Porém como nem tudo é perfeito, às vezes, uma pessoa resolve sair do apartamento e quando isso acontece ficamos apenas com a saudade da perfeição que antes era imperfeito, porém, àquilo que está fora do apartamento parece querer rotular a nossa simplicidade com o argumento de que somos “tapados”, ou seja, pessoas caretas que pouco sabe da vida.

E quando isso acontece àquilo que era pequeno, porém o suficiente, torna-se grande demais para caber num apartamento, e com isso, passamos a ser os corpos em movimento que já não é capaz de conter a extensiva localidade de si mesmo, então, somos obrigados a sair e se adaptar na contingência do incerto. Afinal, no apartamento existe a contingência do “certo”.

“Vamos dar um tempo, não sei quem deu a sugestão.”

Como toda adaptação, geralmente, tem uma dose de superação, buscamos motivações naqueles que já estão fora do apartamento, e como bem sabemos, as pessoas adoram opinar a respeito do que devemos fazer, e quando fazemos aquilo que nos é proposto e algo não sai como planejado, não encontramos ninguém que seja capaz de afirmar que deu o conselho errado, apesar de que, concordo que nós somos os responsáveis pelos nossos atos, e muitas vezes, buscamos os conselhos que queremos ouvir, porém é preciso admitir que muitas pessoas adoram “colaborar”, no entanto, quando o final não é tão feliz como imaginaram, percebemos como o discurso muda, e que no final indesejado todos dizem: “eu sabia que ia dar nisso”, os responsáveis pelas opiniões que nos levaram a amargura, somem, porém somem somente os discursos, as pessoas são as mesmas, e continuam a colaborar nas vidas de outros que também querem sair.

“Aquele sentimento que era passageiro não acaba mais.”

E de repente tudo aquilo que nos disseram ser passageiro é o que fica. Aprendemos lá fora que o vento leva somente tudo àquilo que é eterno. A gente descobre que o tempo cura, porém, sem anestésicos.

“Novos horizontes, se não for isso o que será?”

E quando nos vemos fora do apartamento pensamos que ao menos uma coisa saiu como o planejado: ainda respiramos, fora do apartamento, temos a impressão de que estamos livres; porém ainda estamos presos, porém, agora, sabemos o que nos determina. E quando olhamos entediados para o que sobrou tentamos nos enganar dizendo que tudo está ótimo, dizendo que o melhor está por vir, porém, o melhor já é, e não estar por vir, quando pessoas se escondem por trás de discursos desse tipo, é porque não são capazes de encarar a angústia, e com isso, se escondem nas expectativas, talvez, seja por isso que quando me lembro do apartamento que era tão confortável sinto saudades, isso é anseio por entorpecimento, voltar não é desejável, uma vez que conhecemos o mundo, é preciso andar, afinal, correr os ricos dessa estrada é o melhor a se fazer, voltar ao apartamento seria o passaporte para a morte, é covardia, encarar o vazio é a melhor atitude, voltar ao passado é querer preencher o vazio com entorpecimentos inúteis. Novos horizontes, se não for isso o que será?

“Quem constrói a ponte, não conhece o lado de lá.”

Deve ser por isso que quem constrói a ponte não faz ideia do que há do outro lado. Acho que no fundo ninguém sabe definir o que seria “novos horizontes”, por isso, construir pontes é tarefa fácil, o difícil é transpô-las. Vejo nisso uma boa distinção entre teoria e prática.

“Quero explodir as grades e voar.”

Isso reflete bem a situação de quem se sente obrigado a sair do pequeno apartamento para buscar a liberdade na extensão do universo, sua alma aspira pelos montes, o céu nos parece o melhor lugar para se divertir, uma alma que anseia voar precisa explodir as grades das gaiolas que o prendem, no entanto, diante da multiplicidade das escolhas ao invés da ótima sensação de liberdade nos sentimos isolados, enclausurados, tímidos, o céu agora parece perigoso demais, estranho, parece que ser livre não é fazer tudo o que se tem vontade; ser livre é se jogar mesmo não tendo vontade suficiente para encarar o medo. Eu preciso voar, mas como se faz isso? Não sei. Só se jogando para saber.

“Não tenho pra onde ir, mas não quero ficar.”

Isso é coragem. Ficar é fácil, mas não é a melhor escolha, sabemos disso, a coragem de pegar a estrada sem saber para onde ir é o que nos diferencia dos suicidas.

“Suspender a queda livre, libertar.”

A queda livre é a direção para a morte, e não ela própria. Suspender a queda livre não é fugir da morte, mas simplesmente abrir o paraquedas e curtir a decida com maestria, talvez isso seja aproveitar a vida. Então se libertar não é necessariamente sair dos conformes, mas sim, saber que estamos numa decida para a morte, e com isso, se libertar, seria garantir uma queda responsável, nesse sentido aquele que se entrega ao vazio não é livre, é escravo da morte. Será que é por isso que vemos diversos jovens morrerem? Já que estamos descendo, por que não aproveitar a descida? Daqui de cima o mundo é lindo, grande demais, um mundo de possibilidades, por que querer esperar o chão para se lamentar do céu que deixou para trás?

“O que não tem fim sempre acaba assim.”

Enfim, chegamos ao realismo supremo da música. O apartamento é o sonho da perfeição. Aceitando a ideia de que os sonhos perfeitos jamais serão reais, a melhor opção é aceitar a vida imperfeita, porém a melhor e única vida que temos: o que não tem fim sempre acaba assim...

Sair do apartamento é necessário. Por mais que a realidade seja dura demais para com os sonhadores, desistir seria se entregar ao vazio ensurdecedor da alma, e partir em queda livre para a morte. Os sonhos nem sempre serão reais. Mas a possibilidade de sonhar sempre será possível. O que me faz caminhar é a certeza de que todos nós teremos um final (lembra que estamos em queda?), porém, eu escolhi abrir o paraquedas, e apreciar a vida até chegar o momento crucial de pousar na morte. Novos horizontes... se não for isso o que será? Não sei. Eu resolvi descobrir.

Luciano Cavalcante
Enviado por Luciano Cavalcante em 21/05/2012
Reeditado em 31/01/2019
Código do texto: T3679103
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