Análise do poema É A VIDA, de Paulo de Freitas Mendonça

ATENÇÃO!

É importante que leiam o poema É A VIDA, do nosso recantista PAULO DE FREITAS MENDONÇA (Porto Alegre/ RS/ 53 anos) antes de iniciarem a leitura dessa análise.

Visitem a escrivaninha do autor do poema analisado!

A vida sempre nos surpreende. O que há nela nos (pre)enche ou esvazia. É aparente contradição. Na voz do poeta, é jogo de luz e trevas; noite e dia; som e silêncio; calor e frio; superfície e profundezas; corpo e alma; dentro e fora; morte e vida. É busca constante pelo equilíbrio entre o que aparenta ser diferente.

Ao comparar algo com o seu extremo, geralmente se busca o que não é parecido, o que difere. No entanto, o eu lírico mostra, nesse poema, justamente o que é “tão semelhante ao oposto”: se a escuridão total das trevas nos cega, a intensidade da luz lançada na direção dos olhos também pode causar o mesmo efeito. Se o frio intenso encaranga e mata, o calor também pode desidratar e levar à morte. Na última estrofe, há a principal oposição: a vida comparada a um corrimão que nos apoia e, ao mesmo tempo, nos guia até nosso momento derradeiro: a morte. Portanto, as imagens criadas no poema representam a Vida em suas contradições.

Outro aspecto interessante desse poema é o emprego de uma linguagem sinestésica, visto que viver é tocar o mundo pelos sentidos. Viver é apalpar, degustar, cheirar, perceber, olhar, ouvir... a vida. É desta forma que se interage com o mundo. No momento em que o eu lírico apura seus pensamentos, sua alma, seus sentidos, ele consegue mergulhar em si mesmo (e até em outras vidas), para conectar-se com o que há de mais profundo a fim de entender todas as aparentes contradições. É assim que, pelo tato, ele percebe o amassado da alma, os pisões marcados na mente; sente na pele o “gélido frio de agosto”; ouve a voz que entoa uma gesta (poema épico da Idade Média) quando a pátria silencia; vê a claridade, o breu, o sol, “as rugas na testa”, o rubro do céu. Pelo que diz o poema, não importa o destino, pois esse é inconstante. O mundo não é senão aquilo que ele consegue ter, sentir e ver através de uma fresta. E isso é pouco diante do que há no mundo inteiro.

O tempo é a marca da vida e passa. É a noite constantemente engolindo o dia. Se há sabor ou não na passagem desse tempo, só quem passa pela vida saberá. Degustar o que se engole nessa vida depende de cada um. Há os que saboreiam e há os que simplesmente “empurram para dentro” sem saber que gosto teve o que engoliu. Viver é saborear ou não o tempo que passa sem piedade.

Ao se dar conta de que a vida e a morte são algo único, indissociável, como faces de uma moeda transparente, o eu lírico sente isso como uma chibatada na consciência e sofre as “dores renascidas”, pois o ser humano está sempre em busca de respostas para sua existência e para o pós-morte. Diante de si está uma verdade: a vida é um corrimão que nos apoia, mas também nos guia direto ao fim do nosso existir. Assim é para todos, sem exceção. É a vida, como afirma o próprio poeta.

Autora: Luciane Mari Deschamps