CD "MUSIC" (Madonna)

Temos com Madonna Louise Veronica Ciccone uma relação que foge a qualquer tentativa de explicação gráfica, sonora ou afim. Tanto já se falou, questionou; sem chegarmos a nenhum denominador, que desconfio que a dona impera além do bem e do mal. Adorada por fashions, clubbers, intelectuais, punks e donas-de-casa (e odiada idem), a material-girl entra ano, sai ano, lança disco, atua, casa, descasa, polemiza. E o refluxo da maré não a atinge. Ou melhor, só engorda os seus investimentos.

Tive a vaga idéia de ter odiado ‘Ray of Light’, de 98. Depois de algumas audições, contudo, comecei a penetrar nos vãos sonoro-lisérgicos e acabei me apaixonando. Então, veio este ‘Music’. Caí de joelhos, mas como desconfio demais dessas minhas paixões instantâneas, preferi deixar passar um período da história. Me contentei em ouvi-lo depois, mais sóbrio e menos passional. Apenas confirmei com o tempo aquilo que já previra: em que se pese ouvir alguns comentários de adoração, e outros que a difamam, acho mesmo que o mito Madonna já impregnou-se de tal forma nesta nossa cultura de consumo, que no futuro não se saberá mais se ela foi uma armação da mídia ou uma “arrumação” que soube dominar-se e dominar todas as maneiras midiáticas de exposição nesse período “pós-qualquer coisa”. Seja como for, ouça ‘Runaway Lover’ e ‘Don’t Tell Me’ primeiro e deixe para fazer qualquer comentário depois.

(‘Music’, Madonna, Warner, EUA, 2000)

* Resenha feita originalmente para a revista Divas, ano zero, número zero, abril de 2000