INOCÊNCIA
Não sei o que dizer
Nem o que pensar
Porque o silencio fala por mim
Como numa mímica mal resolvida
Ainda sou aquele gurizinho
Que brincava com bonecos de plástico
Inventando um novo alfabeto
Um roteiro louco para as brincadeiras
Coisa de criança sem afeto
Faço misturas de palavras
Como se fossem um ingrediente desconhecido
Faço isso achando que vou mudar tudo
Mas por eu mesmo não me mudo
A maldade do homem
Já não tem endereço
E nem nome
E só acontece pra nos deixar em cativeiro
Não vou reclamar do que passou
E nem do que está para chegar
Afinal, o que passou é passado
E agora não da para chorar pelo leite derramado
Hoje tem um sol bonito lá fora
Eu vou chamar meu amigo
E a gente vai brincar
Até o dia acabar
Jogando bola no barro
Ou correndo como se soubéssemos do futuro que está para chegar
Hoje vai ser um dia para se lembrar
Daqui há vinte anos ainda vou lembrar de hoje
Pena que nem sempre as coisas vão ser assim
Sei que um dia vou perder minha inocência
E conhecer o mundo de forma cru e dolorosa
Uma forma que nenhuma criança devia conhecer
Talvez não exista mais amor
Nesses dias de medo e de terror
Apenas queria que tudo fosse bom
Só uma vez
Por que isso nunca acontece
E ninguém quer mais fazer o bem
E quem o faz é chamado de tolo
Vivo nesse mundo onde me chamam de louco
Mas viver nele é preciso ser assim
Antes ser louco do que ter espírito de porco
Ta bem difícil
Viver assim