A Tragédia e o Trágico em O Último Tear de Vanilton Alves
Geane Aguiar e Maria Aglaé Nascimento
O conto moderno O Último Tear, do escritor e jornalista sergipano Vanilton Alves, vencedor em 2003, do concurso de contos Núbia Marques, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe narra a história de um homem que morava em uma cidade do interior sergipano. A narrativa não evidencia, mas traça indícios que a personagem era filho de uma família de grande influência econômica, provavelmente filho de um senador que era dono de uma fábrica de tecidos, na Boca do Rio.
A vida da personagem é marcada por uma série de passagens extremamente trágicas. No início da trama, deparamo-nos com os momentos angustiantes vivenciados pelo protagonista ao rememorar o sofrimento da sua mãe; em ter que enfrentar um dos males mais temerosos da época, a tuberculose. O drama do jovem sergipano segue ao relembrar, também, a dor enfrentada pelo pai depois de ser comunicado pelo médico da família que, a doença era incurável, e o estado da esposa era irreversível.
O Último Tear é organizado por subsequentes tragédias, pois além dos fatos angustiantes enfrentados pelos membros da família, acrescenta-se ao enredo algo ainda mais dramático. A senhora acometida da asquerosa doença estava grávida de sete meses. Não havendo nenhuma chance do bebê sobreviver.
Nesse contexto, ao enveredarmos pelos parágrafos iniciais da página 42 (quarenta e dois), evidenciamos o trágico e a tragédia, características marcantes na obra desse notável escritor. Assim, o autor imbuído de uma tecitura mórbida, mas ao mesmo tempo atrativa vai compondo um cenário literário rico e instigador, capaz de cumprir seu papel social como escritor – algemar o leitor em seu contexto estético literário.
Nesse prisma, vale à pena aquarelar trechos da página mencionada: "Era tarde, a moléstia tinha se tornado crônica. O silêncio do doutor, ao deixar a sala fez meu pai compreender a extensão da doença: incurável." Vale ressaltar mais uma vez que, durante o desencadeamento da obra, interagimos com uma trama peculiar, sedutora, que envolve o leitor num misto de apreensão, curiosidade, explosão sensorial e uma cascata de ansiedade pelos mistérios implícitos em suas entrelinhas.
Nessa perspectiva, podemos salientar, na obra de Alves vários episódios que se entrelaçam entre a tragédia e o trágico: a morte inesperada de Feliciano Bezerra, em virtude da perda da esposa; a morte dos filhos da personagem, com Ângela, a mulher que ele mantinha prisioneira no Casarão de Santa Efigênia; a descoberta do narrador-personagem, em saber que Beatriz foi a autora dos assassinatos dos seus filhos, fato que ocasionou o suicídio de Ângela.
Outro episódio bastante intrigante que complementa a interrelação da tragédia e do trágico, na trama bem esquematizada pelo autor é a morte de Beatriz, ao parir sem nenhuma assistência médica. Cabe relembrar o trecho: "Chamei Beatriz com imprecação e insistentes batidas à porta do quarto (...) constatei que a porta estava apenas encostada. A criança – um menino estava envolta em placenta, sujo, ao lado da mãe, que não suportou as dores, talvez pela idade avançada e falta de assistência, e apagou o facho das vistas. Assim, mais uma voz sucumbia. "(Alves, 2004)
Sedimentado em uma tragédia moderna, com cenas trágicas, o conto vai estabelecendo assim, um prazer literário descomunal, ou seja, a tragédia moderna não é empecilho, para a satisfação literária. Contrariamente, é um forte elemento que cumpre com ousadia e competência provocar a sede do ávido receptor literário. Desse modo, é notório que, do princípio ao desfecho da obra, o trágico e a tragédia marcam saborosamente essa produção literária tão bem estruturada.
Em síntese, a obra de Vanilton Alves finaliza triunfantemente, com a destruição e tentativa de reconstrução do empreendimento familiar que fora sucumbido pela a enchente do rio, bem como as lembranças vivenciadas constantemente pela personagem, como forma de destruição, experiência e reconstrução de vida.