EU PERDERIA UMA PALAVRA
EU PERDRIA UMA PALAVRA
Eu perderia uma palavra,
Perderia a frase toda,
O poema todo,
Se assim fosse...
Falo a uma cidade
Onde de fato não existe cidade,
Embora de direito seja uma cidade,
De fato não é.
Falo a um povo
Onde nunca vão me ouvir,
E as mesmas pragas sempre nos vêm,
E nos tens em suas folhas verdes de comissionados.
Falo como poeta;
Que esqueceu as rimas
E o lirismo.
Que de tão velho não faz versos novos!
Eu perderia uma palavra
Perderia a frase toda,
O poema todo,
Se assim fosse...
No sentido contrario as coisas fúteis,
Nas pessoas fúteis,
Perderia...
Pobre poeta que nem cabe em sua cidade!
Temos uma água pura, quente e santa que nos lava.
E uma inclinação manca pra sujeira,
Andei pro todas as ruas de Salgadinho,
E eu andava só,
Triste e só!
Mas, a alguém me chamava...
Eu perderia uma palavra
Perderia a frase toda,
O poema todo.
Se assim fosse...
Só que em salgadinho quase tudo
Está perdido!
Quase toda crianças,
Quase toda mulher,
Quase toda pessoa,
A cidade quase toda,
Os sonhos ainda não,
O meu amor,
Os meus amigos, quase!
O poeta, quase!
Quase toda arte...
Não aquela encravada na carne, essa nunca!
Em Salgadinho...
Eu estou perdido!
Minhas palavras são perdidas,
Minhas frases também,
Meus poemas...
Meus poemas nem sair de casa.
Eu perderia uma palavra,
Perderia a frase toda,
O poema todo.
Se assim fosse...
Como não é!
Acho que já estão perdidos!