LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA-"PARQUE XANGAI"

LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA

PARQUE XANGAI

É com muita saudade que recordo minha infância!

Meu pai, homem muito bonito, alto e forte me conduzia a todos os lugares, a ponto de apostar corrida comigo em plena rua – tamanho o amor que tinha.

Tive uma infância muito feliz junto a minha adorável e disciplinadora mãe.

Minha irmã, a caçula da família era a minha companheira de brincadeiras, isto é – quando eu queria. Uma diferença de quatro anos nos separava.

Morávamos em um bairro central da cidade próximo ao Jardim da Luz, Praça Princesa Isabel e muitos colégios ao redor.

Na minha rua tinha um depósito da água Fontalis, um castelinho que virou hotel e muitas personagens interessantes, como a Maria Machadão, mãe do Rui.

Ainda muito pequeno, lembro que meu pai levou-me ao Parque Xangai.

Fazia frio naquele dia, minha mãe agasalhou-me com capote, boina e calças de lã.

Parecia um homenzinho.

E lá fomos.

De mãos dadas com meu pai, tomamos um carro de aluguel, cujo chauffeur chamado Rasteira nos servia aos domingos quando íamos à casa de minha avó.

Não estranhem! O táxi de hoje era o carro de aluguel daquela época e motorista afetadamente tratava-se de chauffeur.

Aconchegados no banco de trás do Ford, ano 1948, passamos por um monte de ruas de paralelepípedo que por sua vez sacudiam o carro fazendo parecer uma carroça velha.

A noite garoenta transmitia mais frio ainda.

Um mundo de luzes piscando, carrinhos de pipoca e um mundaréu de gente para lá e para cá se movimentava.

No colo de meu pai atravessei aquela balburdia e de mãos dadas percorremos as atrações do parque.

É lá papai que eu quero ir.

Puxando pelas suas calças, deixou-se conduzir.

Eram aviõezinhos que circulavam um atrás do outro, volta após volta.

Contente, fui alojado no banquinho da aeronave, convicto que estava voando.

Tenho até uma fotografia para comprovar o feito, bem como a elegância de meu traje confeccionado por mamãe.

Satisfeito, pus-me a caminhar ao lado de meu pai que me mostrava os carrinhos de choque, a roda gigante e os barcos que depois de percorrerem um sinuoso caminho eram ao final arremessados no lago, esparramando água para todos os lados.

Muito bacana e divertido.

Contudo ao passarmos por uma vitrine que exibia uma mulher exageradamente pintada, que gargalhava freneticamente, deixou-me muito assustado, a ponto de chorar copiosamente.

Colhido de surpresa, meu pai perguntou. O que foi?

É a tia Zelinda que está ali.

É a tia Zelinda.

Levando-me ao colo e enxugando minhas lágrimas, disse-me não é a Tia Zelinda, é uma boneca animada que ri sem parar.

Sem me convencer, não quis mais saber de ficar no parque.

E até hoje posso afirmar que era mesmo a Tia Zelinda que estava lá rindo e sacolejando sem parar.

Pronto!

Nunca mais desejei ir ao Parque Xangai.

PAULO COSTA

MAIO/2006

paulo costa
Enviado por paulo costa em 18/12/2007
Código do texto: T783379
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