Medo de crianças

MEDO DE CRIANÇAS
Miguel Carqueija


“Uma boca que alimentamos são dois braços que trabalham. E dois braços que trabalham são quatro bocas que alimentamos.”
(Mao Tse Tung, apud Alice Gérin Isnard Távora, “População/fome: o falso binômio dos séculos”)

Nos tempos atuais já se percebe a escassez de crianças e a demografia decrescente em muitos lugares. Um fenômeno estranho está acontecendo: hoje em dia as pessoas se unem em casamento já querendo não ter filhos. É assim mesmo que pensam: vou casar (ou me juntar, depende) mas não quero filhos. Não queremos. Não temos tempo para criar filhos, não gostamos de crianças, não vamos ter recursos. Filhos saem muito caro. Afinal, o que importa é curtir a vida, viajar, ir em festas e embalos, comer e beber.
Sabem, é muto triste perceber casais já maduros que não tiveram prole. Envelhecem, aturando-se mutuamente sem dispor da moderação dos filhos que perpetuarão a família. E nem passa por suas cabeças adotar alguma criança, tantas precisam de adoção! Em breve um dos cônjugues morrerá e o outro então restará só. E muitas vezes, na velhice, não terá um esteio, um apoio.
A ironia é que, em muitos desses casais, os filhos foram evitados até pelo aborto. Diz o ditado, quem semeia ventos colhe tempestades.
Por que esse medo e essa ojeriza em relação a crianças? Serão elas, monstros tão pavorosos assim? É certo que dá trabalho criar: é preciso acompanhar passo a passo, matricular nas escolas, comprar material, as roupas são substituídas por outras maiores porque meninas e meninos crescem. É preciso levar em dentistas, prestar atenção na saúde, na alimentação, nas amizades. Em troca porém, recebe-se o amor singelo de que só a criançada é capaz, fomentando-se assim a melhor união do casal, que se une mais sim, em torno da proteção da prole.
É um desafio que merece ser aceito. Aqueles que preferem uma vida de conforto e irresponsabilidade podem não se dar bem em tal caminho. A iniciativa de gerar é uma doação de amor, que dará frutos a seu tempo. Ser pai e ser mãe não é maldição, é uma bênção. O casal sem filhos é uma família incompleta.

Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2019.



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