Este tema você não domina

Auspicioso dia para brincarmos com palavras e provocações. Espero que esteja pronta para jogar e deixar-se perder, pois suas chances de sucesso são ínfimas e assunto, minha cara, você não domina.

Não se iluda. Faz quase dez segundos que pus o tabuleiro na mesa e a mocinha ainda nem notou. Fiz minha jogada, e acho que você perdeu a vez. É melhor largar o celular, esquecer as curtidas nas redes sociais e começar a jogar sem tirar fotos ou gravar vídeos. Leitora, você está só e é assim que será obrigada a brincar. Despeça-se dos seus falsos amigos, renuncie aos elogios fajutos que lhe foram feitos e prepare-se para admitir a própria hipocrisia e mediocridade.

O tema com o qual brincaremos é a sua existência, ou melhor, a sua inexistência. Você é um fantoche que encena a própria vida sem, necessariamente, vivê-la. Arrisco-me a dizer que, desde que nasceu, nunca tomou decisões completamente compatíveis contigo. Vamos! Quero vê-la lembrar de ao menos uma ocasião em que fez escolhas sem pensar no julgamento alheio ou nos danos que tal atitude causaria a sua imagem. Talvez você já esteja pensando em parar de jogar. Curioso, não é? Perceber que a consciência nos torna covardes.

Espero não a ter ofendido, pois das duas uma: ou eu estou certo e daí não há motivo para ficar chateada, ou estou errado e você pode ficar tranquila, sabendo que o que eu disse não faz sentido algum. A verdade, entretanto, é que tenho certeza de tê-la ofendido. Não adianta fingir, minha cara, você não é quem deveria ser, tem medo de ser quem é e não pretende ser você mesma. Os fatos são aterrorizantes e é exatamente por isso que você prefere estar protegida pela crítica da sociedade a ser largada pela indiferença do povo.

Leitora, quando é que deixará de não ser para, enfim, ser?

As pequenas dores que você relata são, na verdade, reflexo de uma gigantesca angústia e carência afetiva. Sua hesitação em conhecer-se não é infundada, se é que serve de consolo. É desesperador ter de arcar com as consequências das próprias ações, sem ter com quem compartilhar parcial ou integralmente a culpa. É horrendo notar que se está sozinha e que tudo, absolutamente tudo, depende exclusivamente de você. Eu sei que é doloroso, mas, leitora, estou certo e você precisa admitir.

Esta é a hora em anuncio que venci o jogo, mas deixe-lhe provocações e palavras. Seja fiel a si mesma e jamais será falsa com alguém. Minha cara, não há nada além de ti que poderá preencher esse vazio. Conheça a si e talvez joguemos outros jogos, igualmente penosos, mas incomparavelmente mais libertadores. Faça, e faça depressa, antes que lhe reste apensas o silêncio.