Comunicação e Didática
 
Luiz Carlos Pais
 
Uma das proposições apresentadas por Brousseau na fundamentação da teoria das situações didáticas diz respeito ao processo de comunicação inerente ao fenômeno da transmissão e da recepção de informações no contexto do ensino da matemática. Em primeiro lugar, cumpre observar que o autor denomina o referido fenômeno de comunicação “didática”, isto é, colocando aspas somente no segundo termo, e assim permite ao leitor a oportunidade de refletir sobre o sentido ou significado das aspas com as quais o adjetivo é grafado.
 
Tendo como propósito exclusivo estudar os postulados dessa abordagem teórica, entendemos que não trata de transmitir ou de transferir mensagens num possível sentido unidirecional, como se houvesse a possibilidade do professor agir como protagonista ou condutor desse processo. O autor pretende ressaltar que existe uma componente fundamental a ser considerada nas atividades de ensino, qual passa pela comunicação voltada para o estudo, não pretendendo reduzir a complexidade de elaboração do conhecimento pelo aluno.
 
Qualquer atividade de ensino, mesmo na vertente contemporânea da educação à distância, existe essa dimensão comunicativa diferenciada, cuja apreensão do significado é de grande relevância na linha teórica apresentada. Esse mencionado processo não diz respeito ao livre exercício de um diálogo qualquer ou do simples e confortável exercício de assistir a um programa de televisão não interativa. A comunicação “didática” típica da sala de aula escolar pressupõe a existência de atividades protagonizadas pelo professor e pelos alunos, com o propósito central de estudar matemática.
 
Nas diferentes variedades do contrato subjacente a essas atividades, predomina a situação de que o professor e outros componentes do meio atuem como emissores de informações a serem apropriadas pelo aluno para elaborar o seu próprio conhecimento. De modo geral, tais informações são saberes supostamente do domínio docente, os quais serão usados como instrumentos pelo aluno para interagir com o meio, elaborar conhecimentos e refazer um estado favorável diante das adversidades impostas. Na visão tradicional ou clássica predomina ainda certa sensação, esse é o nosso entendimento, de que é possível o professor transmitir conhecimentos para o aluno. Mas essa ideia vem passando por sucessivos avanços como fica evidente na passagem dos contratos sem intenção didática para os contratos poucos didáticos e deste para os contratos didáticos.