Evolução na psicologia cogniiva
 
Luiz Carlos Pais
 
 
Na formulação da teoria das situações didáticas, visando atender as especificidades do conhecimento matemático, Guy Brousseau destaca o desenvolvimento ocorrido no campo da psicologia cognitiva, cujos avanços permitiram também ampliar as bases da Didática da Matemática. Traço marcante dessa linha teórica da Educação Matemática consistiu, ainda na década de 1960, em persistir no desafio de contemplar aspectos próprios do conhecimento matemático sem perder de vista as grandes sínteses gerais feitas até aquela época. Esse é um aspecto que merece ser registrado porque tendo o referido autor trabalhado com o psicólogo Pierre Greco, na década de 1960, ele teve a oportunidade de vivenciar um momento especial, quando se percebeu a necessidade de incorporar fatores sociais na base de referência dos fenômenos cognitivos.
 
Ao que tudo indica, essa foi uma ampliação de grande relevância, pois redimensionou a linha liderada por Jean Piaget, uma das principais sínteses teóricas daquele momento no tratamento dos fenômenos cognitivos, bem como permitiu contemplar os avanços indicados por Vygotsky, na chamada linha sócio-interacionista. Tomando por base os avanços dessas duas principais linhas cognitivistas dos meados do século XX, uma terceira condição foi então proposta na Didática da Matemática, no sentido de persistir no desafio de contemplar as especificidades dos saberes concernentes.
 
Teorias psicológicas da primeira metade do século XX, de modo geral, tratavam o fenômeno cognitivo de maneira indistinta, isto é, sem considerar o saber de referência em questão. A partir dessa época houve então o início da expansão das pesquisas voltadas para o ensino da matemática. Ainda no final da década de 1960, Guy Brousseau e Gérard Vergnaud participaram do lançamento inicial de um novo olhar para os fenômenos cognitivos na educação matemática.
 
No quadro da teoria das situações didáticas, desde o início de sua constituição, veio à tona a ideia de que o estudo escolar está diante de duas poderosas forças, atuantes em sentidos contrários, representadas pela adaptação do sujeito ao meio antagônico (uma resistência oriunda no interior da consciência do indivíduo e voltada para as adversidades impostas pelo meio) e, por outro lado, a aculturação, não menos impiedosa, oriunda no meio social externo e que impõe normais e regras ao comportamento do indivíduo. Mas, de modo algum, a adaptação ao meio didático e a apropriação da cultura escolar são processos naturais ou espontâneos.
 
Para finalizar, gostaríamos de ressaltar uma característica que está presente em teorias do programa epistemológico. Para retornemos à afirmação de Brousseau: “Comecei a me perguntar: que condições podem ser propiciadas para que um sujeito qualquer tenha a necessidade de um conhecimento matemático determinado para tomar certas decisões?” É significativa a orientação indicada pelo autor que o conhecimento elaboração pelo aluno passa a ser visto com um instrumento capaz de funcionar na resolução de problemas. Um viés pragmático que complementa a orientação psicológica construída no domínio da Didática da Matemática.