Saber científico e conhecimento
 
Luiz Carlos Pais
 
 
O educador matemático Guy Brousseau, ao propor as bases da teoria das situações didáticas, destaca duas questões iniciais que entendemos ser de grande relevância na fundamentação das escolhas mais amplas pertinentes à didática da matemática. A primeira delas diz respeito à escolha dos conhecimentos matemáticos necessários para embasar um projeto educacional. Esses conhecimentos dizem respeito ao saber matemático que se encontra registrado nos textos da cultura acadêmica e escolar. A segunda tem uma importante dimensão metodológica e consiste em pesquisar os melhores meios, caminhos para difundir os saberes científicos escolhidos num certo contexto socia e institucional. Por se tratar de uma teoria vinculada ao programa epistemológico, uma das características fundamentais, segundo nosso entendimento, consiste em defender a importância dos saberes científicos de referência.
 
De acordo com nosso o entendimento, essas escolhas dos conteúdos pertinentes ao saber científico e os métodos de difusão estão essencialmente entrelaçadas entre si e envolvem necessariamente posição política do educador, da instituição e do estado ao definir as políticas públicas. Como a nossa intenção principal, ao escrever este texto, é estudar as ideias propostas pelo referido autor, apenas para entender os conceitos colocados, somos levados a indagar a respeito das possíveis relações existentes entre as expressões: conhecimentos matemáticos, conteúdos matemáticos e saber matemático. Por que Brousseau prefere utilizar a primeira dessas três expressões?
 
Arriscamos aqui a propor uma reflexão, visando apropriar-nos do sentido postulado pela teoria das situações didáticas, pois, ao que tudo indica “conteúdo” parece ser um termo carregado de sentido positivista e até mesmo preferido por educadores fieis à didática clássica. Em outras palavras, os conteúdos matemáticos, na visão clássica, teriam supostamente existência distante do mundo subjetivo e singular do estudante. Entendemos que o autor recorre ao termo “conhecimento” no sentido de valorizar a efetiva “posse” do sujeito do objeto estudado.
 
Há uma diversidade de respostas para as duas questões destacadas por Brousseau: a seleção dos conhecimentos e o tratamento metodológico para a sua difusão, quer seja no plano mais pontual da sala de aula ou numa proposta mais geral de um projeto educativo. Diante da diversidade de movimentos teóricos constituintes da Educação Matemática, a escolha de conteúdos e métodos passa pela formação docente, pelas condições ditadas pela instituição onde as práticas são efetivas e também pelo projeto político no qual as referidas práticas têm a chance de frutificarem, dar as respostas esperadas pelos educadores e pela sociedade de referência.
 
Essas respostas, diante do movimento recente de expansão da Educação Matemática, de certo modo, estão associadas às diferentes vertentes teóricas com seus diferentes graus de maturidade e cientificidade. Em outras palavras, não depende as escolhas postuladas por apenas uma linha de pesquisa. Assim, no contexto de um curso de pós-graduação da área também vinculada à formação de professores, espera-se a natural ocorrência de divergências na defesa de uma ou outra posição teórica. Para finalizar, o enfoque principal pretendido nesta redação foi apresentar uma primeira referência para discutir possíveis diferenças entre os conceitos associados conhecimento e saber científico de referência para a prática educativa. Caso você queira fazer um comentário ou sugestão, poderá inserir uma mensagem pública no espaço existente logo abaixo ou, se preferir, envie uma mensagem pelo e-mail, pois o estudo pretendido perente ao estrito espaço das interações entre o entendimento pessoal e coletivo. Somente assim podemos avançar nos estudos.