A triste decadência do jornal "O Globo"

A TRISTE DECADÊNCIA DO JORNAL “O GLOBO”

Miguel Carqueija

Nos anos 50 e 60 meu pai chegava do trabalho sempre com o “Globo” em baixo do braço, e eu, ávido, pegava para ler as histórias em quadrinhos. Gostava de ler o Tarzan, o Mandrake, o Fantasma, o Super-Homem. Também apreciava Vida apertada, “comic” com o casal Pafúncio e Marocas, mas minha preferência era pelos super-heróis que, naquele tempo, eram ingênuos. As historinhas eram meio bobas, mas eu nem notava isso.

Com o tempo descobri que “O Globo” tinha ótimos colunistas, alguns até estrangeiros, lembro de uma série assinada pelo conhecido bispo norte-americano Fulton Scheen. E havia as colunas de Gustavo Corção, Eugenio Gudin, Mozart Monteiro, Lazinha Luís Carlos, Elsie Lessa, Gilberto Souto, Jota Efegê, Nelson Rodrigues e tantos outros. Havia matérias saborosas, inclusive sobre temas científicos e curiosidades históricas! E a grande coluna de crítica literária de Antonio Olinto, que me informou de tanta coisa importante!

Com o tempo “O Globo” ficou irreconhecível. O jornal de papel, que ainda existe, é insípido e frívolo. O jornal virtual, então... dêem só uma olhada em algumas manchetes de hoje, onde casualmente não se vê nenhuma notícia de bebebês:

“Babilônia: Inés e Aderbal são pegos na cama”

“Marina Ruy é clicada em shopping com acessórios de quase 15 mil”

“Consuelo pede para Xavier investigar a vida de Rafael” (outra notícia de novela...)

“Grazi Massafera grava cena em “Verdades”

E este primor:

“Xanddy comenta polêmica de foto com Caetano Veloso de cueca”

Francamente, já vi que, quando quiser me informar do que realmente relevante e sério está acontecendo no Brasil e no mundo, basta só clicar na página do “Globo”! Felizmente encontrei hoje uma notícia realmente importante e até comovente, ainda que a manchete esteja mal redigida:

“Casal adota quatro filhas de amiga de escola da mulher após ela morrer de câncer”

Embora a pessoa que redigiu a notícia deva tomar algumas lições de redação, o assunto é tocante pelo exemplo de amor e altruísmo. O fato aconteceu em Nova York. Antes de morrer, vítima de câncer no cérebro, Elizabeth Diamon pediu a sua amiga de infância, Laura Ruffino, que cuidasse de suas filhas de 5 a 12 anos. Laura e Rico, seu marido, já tinham duas filhas, agora têm seis. Lindo demais, inclusive as fotos. Confiram neste link:

http://extra.globo.com/noticias/mundo/casal-adota-quatro-filhas-de-amiga-que-morreu-de-cancer-16889427.html

No mais, quem conheceu “O Globo” dos velhos tempos só pode lamentar a melancólica decadência.

Rio de Janeiro, 22 de julho de 2015