A Virada do Preconceito
Odette Castro é minha mãe há 30 anos e da Beatriz há 28. Se hoje em dia vemos tanto preconceito ao redor, imagina quando a Bê nasceu – em um mundo onde só existiam quatro crianças iguais a ela, sem referências, justificativas ou respostas.
Ele estava em todo lugar: na praça de alimentação do shopping, nas ruas, nas festinhas de aniversário, na vizinhança, na praça. Marcou-me bastante quando a Beatriz assentou no carrinho de uma criança no parque e, ao levantar, a mãe do menino passar um pano no assento. Também em aniversários, ao ver todos se afastarem quando a Bê entrava no salão. O preconceito é mau, forte, crescente e presente.
Mas tivemos sorte, eu e Bê, já o preconceito, coitado... Minha mãe nunca deixou um momento desses passar batido. Sabe o carrinho no parque? Ela fez questão de lembrar a dona do pano que deficiência não é doença, não transmite, mas que pode acontecer na vida de qualquer um. E nas festas? Após a dispersão chamava todas as crianças para apresentar Beatriz e explicar o que ela tinha de diferente.
Algumas atitudes que deixavam a vida mais leve e o preconceito mais distante. Foram muitos casos até chegar aos dias de hoje, onde através de seu Facebook, Odette compartilha casos, sentimentos, dúvidas e medos em relação ao dia a dia e vida da Bê. Através desse espaço as pessoas começaram a entender o quão difícil e gratificante é passar por algumas situações nessa vida. O quão doloroso pode ser um olhar ou a falta dele. E que alguns problemas que julgamos serem enormes, na verdade são insignificantes.
Inúmeros “likes”, compartilhamentos, cumprimentos. Desabafos, realizações, novas amizades (e inimizades). Mas a atitude de compartilhar a convivência diária com uma hoje adulta (para nós eterna criança) excepcional aproximou e ajudou muitas outras mães a se abrirem. A procurarem ajuda, um ombro, compartilharem pequenas alegrias e tristezas. O melhor é que Odette faz isso com muita poesia, o que deixa tudo mais bonito ainda!
Aquele preconceito que citei no início trocou de lado. Através dos textos e depoimentos de pessoas como minha mãe, a deficiência e seu cotidiano se aproximaram do nosso dia a dia e aqueles que não ajudam ao menos não se afastam, se compadecem.
O preconceito teve sua virada. Uma pena mesmo é não ter morrido de vez.
*Para conhecer um pouco dos textos da Odette acesse o perfil www.facebook.com/odette.castro
* A Beatriz é portadora da síndrome de Rubinstein-Taybi, para conhecer um pouco mais acesse http://www.artsbrasil.org.br/
Esse texto faz parte do FUNICONCURSO “Publicação Solidária” da FUNIBER (Fundação Universitária Iberoamericana) - www.estudarnafuniber.com