O ORGULHO HUMANO NO NOSSO DIA-A-DIA

Talvez não percebamos, mas nós humanos somos seres dotados da mais elevada forma de orgulho que pode existir. Talvez esse já seja um dado digno de orgulho. Por mais modestos que sejamos nunca perderemos a característica do orgulho, da vaidade, exatamente pelo fato de sermos humanos. Provavelmente esta seja uma característica tão peculiar a nós que já estejamos acostumados, adaptados a tal fato, o que nos impede de perceber isto reflexivamente.

Este raciocínio pode ser exemplificado de diversas formas, de fatos existentes até mesmo no nosso cotidiano. O fato de se perguntar as horas a um desconhecido denota bem a ideia pretendida. Qual a razão de se saber o número das horas? Talvez uma pessoa organizada afirme que use o tempo marcado no relógio para controlar suas atividades. Não parece pretenciosismo humano querer controlar, ‘apenas’, o tempo? O relógio, nesse sentido, é uma manifestação pura e clássica do orgulho humano estampado no nosso cotidiano antropocêntrico.

Falar de relógio remete-nos à lembrança de outra ferramenta cotidiana: o calendário. Este é um outro símbolo que pode representar a ilusória crença de controle de tempo. Fala-se tanto em datas comemorativas, como se todo natal fosse o mesmo, como se todos os dias dos pais ou das mães também o fossem o que, consequentemente, pode causar a ignorância dos demais dias do ano em que não haja alguma comemoração notória.

Ora, o dia de hoje talvez não seja especial “calendariamente” falando visto que ano/semana que vem haverá outro “02/06” ou outra “segunda feira”. Esta falsa percepção decorre exatamente do fato de que, folhearmos um calendário e vermos outras ‘segundas’, outros ‘junhos’, nos faz desprestigiar cada momento que vivemos. Reiterando, cada momento deve ser vivido de forma especialíssima. Não que eu queira adotar uma filosofia de auto-ajuda. Basta você se atentar ao fato de que o momento em que iniciaste a leitura desse texto não volta mais. Culturalmente falando encontramos reflexões semelhantes em notórias músicas populares cujos trechos dizem que “...nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...” ou mesmo que “...é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”.

Sem querer adentrar no plano religioso, um outro exemplo do orgulho humano culturalmente convencionado diz respeito ao evento do apocalipse. Independentemente da religião adotada, a maioria delas terá o apocalipse como o fim do mundo, juntamente com o fim da humanidade. Ora, para que a espécie humana seja dizimada da face da Terra não necessariamente haverá a destruição total do planeta. Prova disso foram as inúmeras eras glaciais pelas quais a Terra passou, bem como a questão dos dinossauros que, apesar de extintos, não impediram a continuidade da vida na Terra. E nós somos testemunhas dessa (des)continuidade vital do planeta.

Esses são apenas exemplos de nossa visão antropocêntrica. O problema é que não podemos viver sem tais “orgulhos” dada nossa total dependência utilitária a eles. O que nos resta a fazer é não deixarmos que esse orgulho, pelos exemplos acima, nos torne incapazes de apreciarmos cada momento da vida, ou de não considerarmos a importância de debates ambientais ‘semi-apocalípticos’ à espécie humana, tão "banais e cansativos" tais como o do desenvolvimento sustentável ou o do ‘derretimento das calotas polares.