TEOLOGIA DA FELICIDADE I
Nós, cristãos, vivemos a cultura do sofrimento, da dor, da angústia, do medo, do pesadelo, etc. Faz parte da nossa história há mais de 2.000 anos. E a nossa incoerência, neste ponto, é assustadora. Somos diferentes dos nossos irmãos cristãos orientais. Eles cultuam a ressurreição de Jesus e nós cultuamos a morte de Cristo. Essa é uma das barreiras que prejudica o entendimento da teologia da felicidade, a teologia que o Senhor nos ensinou.
Precisamos perceber que as Escrituras Hebraicas servem como ponto de referência para a compreensão do cristianismo, mas não podemos ficar agarrados a elas. É preciso nos libertar desse peso e compreender definitivamente que Jesus nos apresentou uma nova face de Deus. Um Deus de amor, de compaixão, de compreensão e óbvio um Deus que quer a nossa felicidade, a nossa alegria, o nosso bem-estar, o nosso progresso. Enfim, um Deus que privilegia a vida.
Jesus foi o Profeta da alegria e da libertação. Em Mc 2, 18-19 Ele nos mostra a porta da felicidade quando diz “Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo ? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar.” Em Lc 14, 21-23 o Senhor fala sobre o homem que realizou uma grande festa e chamou vários convidados que não compareceram para a ceia. Mas o homem insistiu, queria realizar a festa e ordenou que os servos chamassem todos que encontrassem pelas ruas.
Em Lc 19, 1-10 temos o ápice da teologia da felicidade ensinada por Jesus. A magnífica passagem sobre Zaqueu, o homem rico e pecador, em cuja casa Ele se hospedou e transformou a vida de Zaqueu que ali mesmo doou metade dos seus bens aos pobres e ressarciu aqueles que defraudou.
Há um estranho interesse em manter as relações entre religião e sofrimento, pois com isso mantêm-se o poder e a dominação sobre a consciência das pessoas. Entre os profetas da desgraça, da dor, das proibições e do sofrimento, eu prefiro ficar com o Profeta da Alegria : Jesus !
A fé cristã humaniza o “ser humano” e a sociedade ?
A resposta deveria ser : sim, a fé cristã humaniza o ser humano e a sociedade. Entretanto, essa não é a verdade. Há uma crise enorme e de grandes proporções sobre a fé cristã. Exatamente, porque o magistério da Igreja não acompanha o ritmo da evolução, do progresso e do desenvolvimento da sociedade. Estamos no século XXI e ainda vivemos a religiosidade de séculos atrás. Daí temos uma tensão preocupante, como conciliar o progresso da humanidade com a estagnação da religião cristã ?
A espiritualidade cristã tem como objetivo “humanizar” o povo de Deus. Todos, sem exclusões, não importa se cristãos ou qualquer outra forma de religiosidade. Jesus veio para todos, mas respeita a liberdade de vontade de cada indivíduo ou sociedade.
O centro da fé cristã está na felicidade e não na religião. Em pleno século XXI o cristianismo está impregnado de barrerias, de proibições, de impedimentos, de regras, de leis ultrapassadas e incompatíveis com o momento atual da humanidade. Isso afugenta e espanta muitos fiéis !
Apenas para citar um exemplo do descompasso, vejamos : a sexualidade está cada vez mais presente entre os adolescentes. Isto é um fato inquestionável. Não estamos mais em condições de discutir se isso é bom ou ruim. Essa fase já passou há muito tempo, a Igreja precisa se posicionar melhor para ajudar pais e adolescentes a enfrentar esse problema com lucidez.
O que é preferível, permitir o uso de preservativos ou deixá-los correrem o risco de contaminação pela AIDS ? O que é preferível, incentivar o uso de preservativos ou correr o risco de abortarem depois ? Filhos deveriam ser frutos do amor e não do desejo ou do prazer.
A Igreja, guardiã da fé cristã, humaniza as pessoas e a sociedade quando está ao lado delas, apoiando-as e não condenando-as. E para entender isso nada melhor do que ler e reler a passagem sobre a “mulher adultera” no Evangelho de João, momento em que Jesus nos dá uma aula sobre justiça e misericórdia. Julgar e condenar é fácil, carregar a cruz é difícil.
 
 
Leandro Cunha