A NOVA ROUPAGEM DA SOLIDÃO

Existem questões que perduram para além de culturas, classes sociais e épocas, compondo o que podemos denominar enquanto “dramas humanos”. A solidão é sem dúvida o componente pilar desses dramas, pois, uma vez que somos seres de relação, carecemos da atenção do outro, é ela que nos torna carentes. A que custo esta necessidade de atenção se dá, no entanto, é algo que nos diferencia e que também nos revela.

Houve um tempo em que se tentou banir definitivamente a solidão efetiva da sociedade. A instituição base da sociedade, a família, era uma exigência de prestígio e respeito. Mulheres e homens eram estimulados a se casarem em tenra idade, sendo motivos de vergonha de seus entes caso isso não ocorresse. Nesse tempo, o apelo à autenticidade, devido a esses padrões fixos, era inexpressivo. Diversamente desse fato, vemos que não dispomos, atualmente, de mecanismos tão fixos que visam sanar a carência e a solidão de pessoas, por isso as formas de reivindicar atenção visam misturar o público e o privado.

Celebridades carentes de atenção, na falta de algo interessante a ser divulgado, espalham fatos estritamente domésticos postando fotos que narram frivolidades na internet. Uma mudança de cor de cabelo, quilos que se vão, uma tarde de sol na praia com o cachorro. A configuração da sociedade atual permite que pessoas troquem banalidades de qualquer ordem para que sejam vistas, lembradas para que tenham alguma importância aos olhos dos outros. É insuportável que alguém exponha diretamente sua solidão, suas carências e seu desespero, mas ainda assim, quando o público e o privado vão perdendo seus limites, é possível notá-los.

Apesar de sermos incentivados, através da facilidade e da estimulação da nossa exposição em redes sociais, há que se ter cuidado. O fato de que alguém toma conhecimento de nossas existências, preferências e atividades, se por um lado, sana em partes nossa necessidade atenção, por outro está longe de resolver nossa carência e menos ainda nossa solidão. É preciso ser notado pela sua própria essência e capacidades que lhes são únicas. Se houve, no passado, um pensador que previu que no “futuro todo mundo terá cinco minutos de fama”, há que se pensar em uma estratégia para que esses cinco minutos de fama não sintetizem a totalidade do sentido de uma existência.