PREFÁCIO

PREFÁCIO

Recebi, do Professor Clóvis Roberto dos Santos, um recado, por escrito, assim transmitido:

“Amigo Lima

Entrego-lhe meu 15º filho, um pouco diferente dos outros, mas legítimo e feito com muito carinho.

Convido-o para ser o “padrinho”, isto é, prefaciá-lo, o que me dará grande alegria. É uma pedra bruta que precisa ser lapidada e, para isso, conto com sua ajuda, pois sei de sua experiência no ramo...”.

Desse modo, fui incumbido do honroso encargo de prefaciar Lembranças e Lambanças – crônicas de um professor. Será que estou à altura de cumpri-lo? A pergunta é totalmente procedente, pois, apesar de já ter certa experiência como autor, jamais poderei me considerar em igual estágio do Professor Clóvis Roberto dos Santos, nas lides literárias.

Estaria eu, um pobre aprendiz de escritor, dotado da capacidade de tecer comentários a respeito de uma produção que tem como autor, um ilustre, culto e renomado cidadão? Que fez de sua vida um exemplo de dignidade como mestre, alcançando, com muito mérito, todos os títulos possíveis da carreira abraçada? Que já publicou, conforme diz, e comprovo, quatorze livros, apesar deste ser um pouco diferente dos outros?

Espero, então, sejam superadas todas as minhas deficiências intelectuais, culturais para o encargo.

Lembranças e Lambanças... é uma série de crônicas narrando fatos que o autor vivenciou ou de que tomou conhecimento, a grande maioria deles passados lá na região onde se encontra a querida Guará, sua cidade natal, encravada na Alta Mogiana. O que vejo de mais interessante, para o leitor, nesse tipo de literatura, é a sensação de felicidade que ele sente, ao ler situações que delas participou, ou são de seu conhecimento.

A grande maioria dos textos não nega o lado do mestre, do doutor em Pedagogia, do brilhante educador, sempre muito lembrado por seus antigos e atuais alunos, de modo positivo, é bom que se diga.

Como o próprio Professor Clóvis definiu, ao tecer comentário na capa de meu primeiro livro, crônicas são textos marcados pela brevidade, geralmente extraídos do cotidiano, podendo ter ou não, certas situações cômicas.

O primeiro aspecto que me impressionou ao ler Lembranças...foi o fato de estar extremamente visível em todo o trabalho: a alma do autor! Ele a colocou de modo tão claro, como a luz meridiana do sol. Eu que já o conheço há mais de 40 anos, num convívio diário, posso isso afirmar com toda certeza. Em todos os seus atos, sei onde sua alma se encontra! Ela está ali! É a marca de alguém que teve um berço, que foi criado num ambiente familiar, com os pais, irmãos, avós e demais parentes.

Ao abrir a série de textos, vem o autor com A Moça Bonita e o Palhaço, que, como ele diz, é uma “tragédia de ontem, transformada em comédia hoje”, semelhante, como afirma, a tradição da literatura grega. Em muitos, nos apresenta determinadas características da região, principalmente das cidades de Guará e Ituverava, dados geográficos das mesmas, e o fato de todos, ou quase todos habitantes possuírem apelidos. Desse fato, surgem “causos’ interessantes! Cito, por exemplo, de João da Cota e a Outra. Noutros, descreve a verdadeira saga, a luta incessante à procura da formação intelectual, os primeiros voos na profissão, suas viagens à longínqua Pacaembu, até chegar à nossa Santo André, que, para minha maior alegria, ele adotou, elegendo-a como sua cidade. O casamento com a amada Tida. Sua lua-de-mel em Poços de Caldas. Isso em O exame de Admissão e a Turma “Casca de Arroz”, O Reencontro de Dois Grandes Amigos, Meu Casamento e tantas outras.

Outra característica, marca registrada do Professor Clóvis, é o seu lado de pedagogo! No recado que em parte transcrevi no início, ele fez uma ressalva: “...Tentei escrevê-lo livre e solto, especialmente das amarras do “tecnicismo”(...). Mas não pude escapar muito do “pedagogismo”, isto é, querer ensinar em qualquer oportunidade. Consegui só um pouquinho...”. Em quase toda crônica há o lado professoral, mas que, de forma alguma, lhe tira a beleza do relato nela contido!

Já li bem mais de uma vez que ao grande escritor, não basta ter ele o poder de criatividade, ser dotado de ótimo poder de produzir ideias. Deve ele ter em mente, também, a melhor maneira de transmiti-las. Porque, na realidade, ele não escreve para si próprio. Extravasa sua arte, mas deve ter a intuição de como será a reação do leitor ao ler a obra que ele criou. Ou, pelo menos, ter uma boa noção disso. Isto é, saber transmitir!

E, nesse aspecto, o autor leva uma tremenda vantagem, por sua condição de excelente pedagogo que é.

Siga em frente, Professor. Esse é o seu estilo. Dificilmente, ou impossível será a quem quer que seja, mudar seu modo de escrever.

Continue a nos brindar com suas deliciosas crônicas. O ABC e as letras, em geral, não podem ficar sem a contribuição de literatos de sua envergadura.

Espero ter atendido, de uma maneira que agrade, o pedido do dileto amigo, Professor Doutor Clóvis Roberto dos Santos.

José Bueno Lima

Advogado e Escritor

Membro da Academia de Letras

da Grande São Paulo.

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 15/12/2012
Código do texto: T4037514
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