Breve consideração sobre as guerras
 
                   Na visão de um dos pais da sociologia moderna, o historiador, jurista, economista e filósofo alemão Max Weber, seria possível identificar numa sociedade quatro tipos de comportamentos que ele classificou como: ação social. Dentre os quatro tipos, ou modelos, de ação social definidos por Weber, três deles teriam caráter racional, por serem motivados por objetivos decididos pelos indivíduos responsáveis pelas ações; seriam estes: ações com relação a fins, ações com relação a valores e ações motivadas por tradições sociais. Já o quarto tipo de ação social descrito pelo sociólogo, seria a ação motivada por razões afetivas, ou meramente emocionais, as quais Weber define como “ações irracionais, cujos resultados são totalmente imprevisíveis”.
              
                Como compreender a guerra? Como justificá-la ou condená-la sem uma análise profunda da humanidade como um todo e das sociedades independentes entre si, detentoras de valores sociais, culturais, religiosos e interesses políticos divergentes? E mais ainda, como não refletir sobre a situação e os direitos dos indivíduos envolvidos nesses conflitos, cujo único erro cometido teria sido o de nascer, pois não escolheram fazer parte dessa ou daquela sociedade?
              
               As guerras são parte indissociável da história da humanidade. Através dos séculos, culturas inteiras foram varridas da face da terra pelos conflitos armados. Civilizações extintas, suas cidades saqueadas e queimadas, suas populações dizimadas, os poucos sobreviventes escravizados, o poderio político e cultural do conquistador prevalecendo e mudando conceitos, costumes, ideias e valores religiosos.

              Com certeza todas as guerras trazem embutidas em si a sua finalidade. Todas são motivadas por questões que aos olhos dos líderes das nações que as incitam parecem ser de uma racionalidade extrema. Guerras motivadas por questões econômicas, conquistas de territórios ricos em recursos minerais, são comuns desde a antiguidade e prevalecem até hoje; a diferença é que, onde no passado lutava-se com arcos e flechas muitas vezes simplesmente pela posse de uma fonte de águas, hoje luta-se com fuzis e mísseis e bombas nucleares pela posse de petróleo, litium, urânio, diamantes, ouro e poder político e estratégico, que venham a equipar a sociedade para enfrentar...  mais uma guerra.

                 A guerra analisada pela ótica weberiana, pode ser considerada a mais completa de todas as ações sociais. Declara-se guerra entre as nações pelos mais variados e inconsequentes motivos. Na África, por exemplo, atualmente o continente se dissolve perante os olhos de toda a humanidade, que ao mesmo tempo estarrecida e apática, não consegue compreender muito menos ajudar na solução dos incontáveis conflitos. Em sua grande maioria motivados por diferenças étnicas, como acontece em Ruanda, Mali, Senegal, Burundi, Libéria, Congo e Somália; somados a questões de luta territorial como em Serra Leoa, Somália e Etiópia; e aprofundados por questões religiosas como acontece na Argélia e no Sudão, entre outros; o cenário de guerra presenciado no continente africano, é de puro ódio, o mais antigo e o pior de todos os sentimentos humanos, o que é capaz de transformar qualquer confronto armado num ato totalmente desumano, irracional, de consequências imprevisíveis e igualmente catastróficas. Ou seja, uma ação social que beira a loucura.

         Como compreender então as guerras? Como justificá-las ou condená-las? O assunto é vasto e polêmico. Faltariam palavras que nos levassem a compreender ou justificar a morte de milhões de seres humanos em meio à dor, à fome, à miséria, à mutilação e ao abandono. Sem contar a humilhação psicológica a que são submetidos os que contra todas as estatísticas conseguem escapar do inferno e sobreviver. Talvez seja mesmo necessário que a sociologia de hoje avance um passo que seja adiante do raciocínio brilhante, metódico e eficiente de Max Weber, e descubra que a guerra só pode ser enquadrada dentro de um quinto conceito ainda não estabelecido: o de ação social sem justificativa aceitável e meramente estúpida.


ALUNA : Leticia Rachel Fernandes da Silva
Curso  -  Letras – Inglês
Faculdade Estácio de Sá - Campus Niterói RJ