O problema da redação ruim não está só no aluno: está no ensino

Costumeiramente o ensino de redação tem sido o "ensino por atacado", ou seja, o professor se dispõe em pé, na frente dos alunos, dizendo o que eles devem ou não fazer:

"- Delimitem o tema";

"- Façam a introdução, o desenvolvimento e a conclusão";

"- Cuidado com as palavras erradas";

"- Redijam o tópico frasal e desenvolvam o tema a partir dele";

"- 'Mas' é diferente de 'MAIS'".

E por aí vai... Vai de mal a pior. Temos tratados os exercícios de redação como ciências exatas, pois parece que o sistema educacional ainda não percebeu que redação não é uma fórmula matemática, com as etapas calculadas, um cálculo certo e uma única resposta para todos os alunos.

E, talvez muitos professores ainda não tenham percebido que redação não tem gabarito. Não há uma resposta "a" ou "b" certa. Mas há múltiplas escolhas e múltiplas respostas. Sem falar nas subjetividades, nas visões de mundo de cada aluno e na teoria das múltiplas inteligências, entre as quais está a da facilidade em escrever, a chamada "inteligência linguística", que já comentei aqui no Recanto (Como está a sua inteligência linguística? http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/3048339).

E, ainda, o problema de se aprender a escrever envolve muito mais elementos do que ler muito, ou ser bom leitor, ou se dedicar a escrever para treinar. Envolve também inclinação, desejo, estímulo e, o mais difícil: motivação. Cito três autores que falam sobre o problema da motivação:

Maria Augusta Rossini, Luiz Carlos Cagliari e Mário Osório Marques.

E nem pense que ensinar regras gramaticais vai resolver a situação. Vai é complicar, "dar um nó" na cabeça do aluno.

O que quero enfatizar é que, para se ensinar redação, ou se tentar acabar com os erros encontrados nela, o professor tem que entender que ensinar redação é um trabalho de orientação, como se faz com um aluno finalista em sua monografia, ou um aluno de mestrado.

Sei que isso demanda tempo, mas o professor de redação deve fazer mais que ensinar, deve orientar e fazer, pelo menos, duas coisas:

1) Conhecer os elementos que dificultam a aprendizagem do aluno;

2) Explicar os erros, individualmente, de cada aluno, conforme a dificuldade de cada um.

É aí que está o maior problema: quem vai se dedicar a isso? Por enquanto, vamos fazendo nosso papel de "ensino por atacado", nos acomodando, ou nos deixando ser "engolidos" pelas muitas coisas para fazer, e dando aos nossos alunos um ensino de redação capenga, o que, em parte, não é só culpa do sistema nem do governo.

Quem aí já viu um professor que chame seus alunos, um por um, e diz a eles onde erraram, como deveriam desenvolver o pensamento, o que deveriam escrever para que o texto ficasse coerente? Mas, com certeza, muitos de nós já recebemos do professor nossos textos ruins com um enorme "X" vermelho e o conceito "ruim", "péssimo", ou com um "muito bom", "razoável", e uns poucos "excelentes". E fica por isso mesmo.

Aí, depois, vamos rir das batidas "frases engraçadas de redações de vestibular", que, na verdade, pra mim, são inventadas, porque, para se criar absurdos como aqueles, a pessoa tem que ser muito inteligente.