Quiçá

É costume se ouvir que em toda a mentira há um pouco de verdade, assim como é extremamente normal se falar que o bêbado ou raivoso exprime em palavras aquilo que lhe é guardado em pensamento. É costume criticar gestos, frases, palavras, atitudes boas ou ruins, tudo é visado, mas acabamos sendo sempre alvos de nossa própria ignorância.

A incapacidade de não ver problemas em tudo, de pensar que um gesto bom pode ser apenas um gesto bom, e de justificar atitudes negativas com mais negatividade. Somos todos um lancho de hipócritas infelizes, que criticam a violência, mas insistem em querer matar/espancar/maltratar seus feitores, que falam de corrupção, mas sempre dão um jeitinho de tirar proveito em uma fila, multa ou em qualquer coisa para driblar aquilo que seria o correto, também conhecido como "ruim" ou "chato" para nós mesmos. O ser humano fala sobre mundos maravilhosos e realidades utópicas, culpando uns aos outros pela sua inexistencia sem perceber, coitado, que o causador de toda essa malevolência é ele mesmo.

Exigimos misericórdia sem querer ser misericordiósos, exigimos amor enquanto incitamos ódio. Somos feios, falsos, fracos, corruptos, a vergonha da nossa própria sociedade.Então nos fechamos em nossas casas e carros, luxuosos ou não, criticando tudo isso e criticando uns aos outros como se fôssemos os seres mais perfeitos do mundo. Sempre achando que os outros não fariam o que faríamos por ele, mas justificando o ato para não fazê-lo, algo que nunca sai, nunca foge do circulo de conforto, apenas mais algo para massagear o ego..

Uma Sociedade teoricamente perfeita perdida em meio a tanto egoísmo, maldade, crueldade e hipocrisia, uma sociedade utópica almejada por uma sociedade hipócrita, que jamais mexe um dedo para fazê-la acontecer. Um povoado sujo e corrupto, uma vergonha ao mundo. Critica o desmatamento, mas jamais abdicaria de seus aparatos de madeira de lei, ou economiza as folhas de papel usadas na escola ou escritório. Debate com fervor o desperdício, mas não reaproveita água para lavar o carro ou qualquer outra atividade. Um povo que mente, que mata, que forja, que questiona, que critica, que rouba, que trai e que não merece nada, mas exige amor, paz, paciência, compreensão, empatia, humildade, igualdade, tudo, mas apenas de seus superiores paara si, pois tudo é desprezível se está abaixo de si. Vergonhoso e lastimável, amargamente notável, esse mundo em que vivemos, aprendemos e um dia morreremos, quiçá.