E O BICHO PEGOU

E o bicho pegou

- Mano, a teia é sinistra.

- Vomita logo, cumpadi, qual que de é a parada?

- Passaram o Teco lá no beco, agorinha.

- Isso é sinistro, Zumbi? Teco tava condenado tem tempo.

- Tô sabendo. Só que o maluco não morreu, mano.

- Então não passaram ninguém, mané. Treta mais furada essa.

- Véi, o moleque tomou uns 12 tiro na fuça. Eu mesmo vi o pau zunindo.

- 12 tiro na cara e não morreu? Aí, Cheirim... suspende a bola do noiado que o Zumbi ta louco.

- Louco nada, nem puxei hoje. Tô de boa e vi mesmo. Tiro de doze, berrante, arribite que não acabava mais.

- E daí o Teco levantou e saiu andando? É isso, ô escroto do caralho?

- É quase isso.

- Então abre o bico de uma vez ou juro que não vai abrir nunca mais, tô bolado com essa linha agora.

- É o seguinte. Teco me barulhou de uma boca rica lá pras bandas do Grajaú. Pensei: é mole. Tamo junto. Ele falou que tinha até brilhoso. Pus o bufante na cinta e fui. Aí o furão não foi.

- Tu é burro pra cacete, véi. Vai na onda do Teco? Um puta craqueiro que mal se levanta nos cambito.

- Tava... tava não, tô precisando de carvão, mano. Qualquer pinta é mancha pra mim. Fui mesmo. Mas o vagaba deu pra trás. Caguei duas horas na calçada e nada do moleque. Voltei pra escovar aquela cara sem dente, mas aí, quando quebrei a esquina do beco, dou de cara com os gambé puxando o dedo no trouxa, me escondi. Os cara saíram correndo pelo outro lado, entraram na carrocinha e sumiram na poeira.

- E aí? Vamo rapá, desembucha logo.

- Dei um tempo, vai que eles voltava. Num voltaram. Levantei do rancho e fui checar o gabiru. Véi, to com medo só de pensar.

- Frouxo.

- Frouxo porra nenhuma. Já passei um monte. Tenho medo de ossada não, mas também não sou ôta. Fui chegando devagar. Tinha dois bandeirado babando no chão. Devem ter enchido os canos e nem viram nada. Passei pelos maluco e encostei no Teco. Tipo uns dois passos. Melado pra todo lado. Os cara tava com raiva, mano.

- Tá, tá... Teco tava estiradão no chão, sangue de cabaço roda mermo. Grande novidade. Toda hora um desses é empacotado por aqui.

- E algum deles se levanta? Enfia a mão nos buraco dos doces e ri? Fala, mano. Já viu um noiado louco de cristina fazer isso ? depois de tomar tiro de doze?

- É você quem ta dizendo, corno. Eu não vi nada disso.

- Mas eu vi e tô contando, porra. O Teco fez tudo isso, me olhou, riu com a boca toda despedaçada e saiu andando daquele jeitão de cachaceiro lá dele.

- E foi pra onde?

- Eu sei lá. Puxei o carro igual um louco, só parei de correr quando cheguei aqui na boca.

-Tem prova disso, mané?

- Pior que tenho. Lembra dos puxador de ventana que tava desmaiado no beco? Filmaram tudo no fone. Tavam no caô pra não dar na vista dos prego.

- Você não tinha vazado na toda? Como sabe disso?

- Eles vazaram logo atrás de mim e gritando igual puta sem paga. Antes de entrar aqui, mandei calarem os beiço, aí me mostraram a fita todinha.

- Cadê isso então, caralho?

- Tão lá fora. Eles querem duas bolas pra entregar o telefone.

- Querem duas ... Ô Mangueira, vai lá fora, pega um telefone pra nós e se os pirulito encrencar prega fogo.

- Certo.

- Enquanto isso, você fica aqui mortinho. Se falar mais, apanha.

- Mas eu só queria avisar...

- O Mangueira já voltou. Vamos ver essa porcaria. Como é que liga essa porra? Tira a mão, Cheirin... agora , mais um pouquinho, pronto... só rodar...

...

- Véi do céu... O Teco ta levantando... ta com um olho furado, a boca pendurada, o peito é só fiapo... o filho da puta ta andando.... caralho...

- Eu falei.

- Mano, o cara é tipo um super homem, só que peneirado na bala.

- Tá mais pra highlander.

- Porra de Highlander, quem lembra disso? É o Wolverine, mano. Aquele maluco que não morre, só se lasca todo.

- Pode ser, o troço é louco.

- A gente precisa achar o Teco, vai que isso é contagioso e passa pra nós. Tamo no céu.

-Tamo sim... mano. Opa, tem alguém batendo na porta, escutou não?

- Manga, despacha a tranqueira,tem tempo pra isso agora não.

- É o teco.

- Quê? Manda entrar, vacilão.

- Aí rapaziada, tudo em cima?

- Teco, tu tá igualzinho tava hoje cedo. Nem parece que tomou uns balaço.

- Já tão sabendo, mano? Porra, Zumbi, tu é cagueta pra merda, hein?

- Ô Teco, como não ia contar isso, cara? É coisa de outro mundo.

- E tu lá sabe o que é outro mundo? Problema não, vai saber.

- Pêra aí, mano. Ficou louco? Guarda esse berro aí, precisa disso não, a gente não... ai..

(Pow, pow, pow)

- Já era cambada de chulé. Segredo é tudo. Se me descobrem, viro rato de laboratório. Zumbi, tu ficou pro último porque gosto da tua irmã, agora toma pra largar de ser língua nervosa.

(Pow)

“Briga de traficantes deixa vários mortos no Morro do Caju”, noticiou o jornal do dia seguinte.

Olisomar Pires e Arnaldo Lins
Enviado por Olisomar Pires em 15/05/2020
Código do texto: T6948025
Classificação de conteúdo: seguro