Quando ir embora de uma festa? Ou sobre a complexidade dos relacionamentos

"Aos nossos fãs e amigos: como R.E.M, e como amigos de uma vida inteira, decidimos colocar um ponto final na banda. Nós vamos embora com um grande sentimento de gratidão e de felicidade sobre tudo que nós alcançamos. Para todos que um dia se sentiram tocados com a nossa música, nossos mais sinceros agradecimentos".

Foi com o comunicado acima que em setembro de 2011 R.E.M, um conjunto estadunidense de rock, informou a seus fãs e à imprensa o fim das atividades da banda. Imediatamente se cogitou que o grupo chegara ao fim devido a conflitos internos, devido àqueles motivos banais que tradicionalmente separam bandas (vaidades pessoais, descompromisso de alguns membros, envolvimento com drogas ou disputas financeiras). Não poderia ser de outra forma, pois os excessos e excentricidades são uma das essências do mundo do rock.

Entretanto, contrariando essa lógica, o vocalista daquela banda não tardou a esclarecer que o encerramento das atividades não tinha qualquer relação com aqueles motivos banais. Em uma página oficial ele escreveu:

"Um homem sábio disse certa vez: ‘A habilidade de participar de uma festa está em saber a hora de sair'.”

Michael Stipe, vocalista do R.E.M, dificilmente poderia estar mais correto. No afã de se viver intensamente, de ser viver tudo o que há para se viver, é tão comum se incorrer nos excessos ou de se destruir algo bonito. Inicia-se então, uma procura doentia de qualquer prazer. A juventude atravessa as madrugadas atrás de mais diversão. Não se dá por vencida enquanto não vê a luz do dia. O ideal teria sido entender, durante a noite, a hora de ir embora. Em meio a esse processo, acabam por desperdiçar uma boa noite ou, por destruir algo que foi belo. Quantas são as noites que terminam de modo chato ou trágico? Melhor teria sido ir embora enquanto tudo estava bem. Mas o afã de se viver mais impede.

Muitos casais também deviam tomar ciência desta frase: “A habilidade de participar de uma festa está em saber a hora de sair”. Caso soubessem ainda guardariam com ternura um ao outro na memória. Caso soubessem não teriam deixado seu relacionamento se deteriorar a um ponto sem volta. Caso soubessem não teriam que se evitar pelas ruas. Enfim, caso soubessem teriam preservado a beleza do que os uniu, distanciando-se enquanto ainda havia tempo.

A banda R.E.M soube o momento certo de deixar a festa! Em mais alguns esclarecimentos o vocalista ainda afirmou:

“Nós construímos algo extraordinário juntos. Fizemos essa coisa. E agora vamos andar longe dela. "Espero que nossos fãs não pensem que isso foi uma decisão fácil, mas tudo deve acabar, e nós quisemos fazê-lo bem, do nosso jeito. (...)”

Talvez a maturidade de preservar algo belo, enquanto ainda o é, tenha motivado essa decisão. Caso tenha sido, foi um grande e difícil acerto.

Talvez algo semelhante aconteça com aquelas pessoas das quais gostamos muito, mas que também evitamos conviver muito para que a relação não se “estrague’. São pessoas raras e encantadoras que conhecemos. São aquelas pessoas com as quais nos identificamos e com as quais poderíamos ficar horas e horas conversando. Aquelas pessoas frente às quais não nos constrangemos após um longo silêncio.

O mais natural seria passarmos todo o maior tempo possível com elas, mas receamos que isso deteriore a relação. Talvez em algum passado distante alguém tenha dito: “É a convivência quem mata os relacionamentos”. O certo, ou não, é que relacionamentos são sempre complexos!

Guilherme c
Enviado por Guilherme c em 01/05/2016
Reeditado em 02/05/2016
Código do texto: T5622267
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