Olhos de mim mesmo

Após um longo e produtivo dia de trabalho,

A noite cai, pesada e triste, em frágeis ombros.

E na solidão mórbida e entediante de um quarto,

Vejo o olhar tremido e o brilho turvo de teus olhos vermelhos.

Teu pensar em silêncio me faz lembrar

As ruas que desviei de meu caminho.

O bater ritmado em teu peito me lembra passos,

Mas não sei quem, nem para onde, nem por que não pára e volta,

Ou por que segue e vai mais longe.

Um vazio me domina.

Tua face rodeia em minha mente

Entre becos sombrios e chorosos.

Sinto em ti uma ânsia de encontrar,

De ter tudo o que procuras.

E após ter dado doses e mais doses de teu melhor remédio,

Ele te falta: cadê a alegria?

Tua pergunta me estremece.

Buscas um pouco de carinho, de conforto,

Algo que te encha de novo do que se esvaziou.

Mas o bater ritmado em teu peito

Lembra-me os passos de alguém que corre atrás da saída.

De teus olhos vermelhos não saem respostas.

Cai uma lágrima, tão devagar e branda

Que parece pedir a alguém que a segure.

Mas as pancadas que nos damos na raiz de nossas almas

Fazem mais lágrimas correrem ao chão, frio e injusto.

A vã razão que nos faz tirar do mundo tudo o que ao mundo demos

É a mesma que, tocada pelo teu sentimento,

Mostra que a força que precisamos está poderosamente escondida

Entre tudo o que se passa em nosso ser.

E na humildade que se faz presente,

Já não vejo o branco molhado, vermelho,

Sinto o sol a me esquentar de novo.

Ergo a cabeça e saio diante do espelho.