Laço Temporal

Mal canta os galos todos, um após outro, repetindo-se consecutivamente, vem o burburinho e o lufa-lufa matinal. Tem, esses bichos, consonância com as areias das ampulhetas e os ponteiros dos relógios: materializa, de certa maneira, medições temporais.

Tudo regulado pelo tempo, seja sol ou seja lua: minuto após minuto; hora após hora; dia após dia..., um após outro, os momentos vão se ajustando e se arrumando..., em um desembrulhar insano no tabuleiro do jogo da vida.

Um acervos de existências, alinhadas em viver dolente, quase sempre, passando pelo deletério do tempo e aporrinhados pelo contradito do fadário. Respiram a toxidade dos momentos venéficos e por instantes bafejos benfazejos onde a benignidade se coaduna com o nocente.

Estão fadadas, esses viventes todos, e nem adianta, em nada, se fazer de mais esperto valendo-se da estupidez ou de remédios ou de tecnologias..., pois que apenas faz adiamento passageiro e enganoso.

Ledo engano pensar-se mais sábio que o passar das horas; pensar-se mais ladino que as areias das ampulhetas; pensar-se mais imortal que imoral; pensar-se improvável de ser pelo tempo imolado.

Estão postos em uma távola redonda que nem bola, que é algo como sendo um “altar de sacrifício”: impuros, enchidos de manchas e com muito defeitos – difere muitos dos cordeiros que eram ofertas a uma divindade.

São acometido de crenças, recheados de empáfia, de mais males e coisas muitas que violam o bom senso e a razão e a compostura: escarnecem, quando em verdade está sendo escopo de escárnio.

Não é bem o que parece ser, entretanto: nada além desse laço temporal; nada além desse mundo-távola onde somos como peças de um jogo; nada além de pedras nos caminhos tortos e embrutecidos; nada além de um viver conflituoso ou armistício; nada além de vidas vazias e de corpos vazios de essências: esse é o tamanho do mundo nosso, do tempo nosso, do viver nosso..., que muitos querem sentir-se adonados.

E isso não pode ser um artifício. Nem mesmo fonte de idolatria ou adornado púlpito. A vida é provisória, mesmo retrocedendo por vezes muitas e muitas... Sempre acumulando ferruginosas sofreguidões ou ganâncias desmedidas ou pretensões e avidezes sobejas! ... Para que, exatamente?!

Pois que o tempo passa, impiedosamente, sem pressa, ácido e indiferente aos apelos todos: se desmancha em horas muitas, dia após dia, como que explodindo em muitos minutos e segundos e frações menores.

É um truque do tempo, que tem o condão de ser indiferente aos pedimentos: alguém ou alguma coisa pode ser inoculado e protegido das intempéries temporais?

O tempo é veneno lento; degenerativo e impiedoso e causticante!