O Sertão em vida e o sol acaçapado

O dia se esvai e os Sertões persistem no abarcar dessas vivências todas, de todos os fulanos e beltranos que são criaturinhas de Deus – mesmo os defeituados de decência –, que se ajeitam do jeito que dá, por sobre esse chão ressequido de muito.

Todos são corréus, parceiros, companheiros, comparsas, cúmplices, aliados ou não, consorciados ou não, desse viver Sertão!

Uma teia de existência tecida de sol a sol e entrando pela noite e vencendo as muitas adversidades, em um ajuntamento de muitas e distintas e desiguais criaturas: seja bicho, seja homem, seja pés de pau e mesmo pedras...

Tudo criado por Deus, nas falas dos que aqui se ajuntam. Tendo alma ou sen¬do dela desprovidos, são congêneres nas suas essências.

A tarde mostra suas muitas cores pintadas no céu.

A palheta de um pintor!, nas falas dos mais letrados; para outros é apenas o céu e o pôr do sol colorindo a tarde, igual a tantos outros muitos crepúsculos.

Também tem os que nada sentem ao ver tal belezura. Uns tem o seu tempo ocupados em afazeres e azáfamas; outros são insensíveis a tudo, especialmente o que de belo tem no mundo. São os que tem espírito destruidor! De tudo fazem para a tudo aniquilar!

Um vento buliçoso tange as mechas dos cabelos de espigas de milho que estão maduradas; uns papagaios em algazarra de final de tarde; um colorido mágico do sol a se pôr; a belezura dos pastos com a garrotada engor¬dada pelo verde do bom inverno..., e mais coisas muitas que faz de qualquer vivente um apreciador dessas formosuras.

Vento buliçoso..., o céu transbordando azul..., e o sol desbocando raios de fogo sem dó nem piedade.

Fogo que estrompa o cocuruto desses que penam nesse lhano chão, com luz intensa e calorenta por demais!

Luz exorbitada que é presenteio do sol a esse viver Sertão!

Um esquentado dos infernos!

Um sol para cada cabeça, tal o vigor dessa fogueirona lá no céu!

Não é esse o mal pior, entretanto. Sobejam as birras dos infames dos malfeitores atazanando esses confins.

Não fosse esse catingal, essas criaturas não teriam como viver nesse mundão de Deus, perdido nesses borocotós! As Caatingas são o salvatério dessa gente sertanejada!

É um sofrer desmedido de grande!

Mas o alento vem com a noite.

A noite é o esteio desses viventes sofridos!

O morrer do sol é laureado com etiqueta de bizarria ao apreceio de todos. E o sol, doloso de muito, se recolhe por trás das serras como que intentando clemência. Só pode!

Em razão disso, talvez o sertanejo faça o apreceio do pôr do sol com mais pujança que com o alvorecer; o sol, ao nascer, tem sempre a promessa de abundoso na quentura: isso já dá desânimo de muito.