Pra nunca mais

É cada vez mais difícil escrever. Pensei até, acredite, em fechar isso aqui pra nunca mais.

Acontece que pra escrever, eu tenho que saber o que tem em mim. Pra catalogar as coisas em peles de imagens, colorir ou acinzentar as dores e os saberes, eu preciso lhes dar nome. Nem isso eu consigo mais. As palavras, as frases, são agora blocos estéreis de significado, servindo como máquina a função primeira que é dizer, e não a que eu quero, a que eu preciso, que é sentir.

Existe a devoção ao outro e o medo de estar preso a isso. Existe a espera da resposta. Existe o medo de romper um espaço nunca existido. A outra coisa também é que escrevo, escrevia, pra poder te amar. Era o jeito de te amar com mais calma, mas até isso também tem sido um saber sem gosto, esguio, intangível, final.

Hoje choveu

Hoje nossos olhos se tocaram

Hoje mainha me desejou bom dia e boa aula

Hoje pai disse "Te amo, filho."

Acho que vou sobreviver até amanhã.