Velhas Lembranças

Lembro-me de um tempo em que a morena desfilava na minha varanda. Cabelos longos, pretos, com um brilho sem igual, e pele sedosa... Um cheiro gostoso de mulher nordestina. Naquele tempo, o povo só olhava, e eu, às vezes, até cortejava o rebolado daquela Maria.

Já era um velho atrevido, um homem rabugento e destemido, apaixonado pelo jeito dela. Ela era tão recatada e religiosa que me negava até um dedinho de prosa. Eu, o velho pecador, viúvo e sem vergonha, não tirava os olhos da boca e cintura daquela senhora. Ai, meu Senhor, por que tanta formosura?

Os homens do bar sempre assoviavam quando ela passava. Eu só admirava e sonhava... Ah, se ela me desse aquela chance... Nem que seja por tabela, tocar o corpo daquela donzela... Ah, se eu tivesse ao menos meus quarenta e poucos anos de vida... Faria uma proposta decorosa, decente e bem distinta... Talvez minha vida seria até diferente se eu tivesse nos braços aquela menina...

Falaria na frente de toda aquela gente, que contigo até casaria. Mas hoje me encontro nesta fazenda, a Casa Grande, vazia... Contando causos, histórias, relembrando fatos da longeva vida com os meus funcionários... Com saudades infinitas daquela donzela, Maria querida...