Uma mulher anciã

 

Proseando com uma anciã com mais de noventa anos. Colhíamos flores do campo na beira da estrada, ela muito faceira e gentil, bem disposta, cabelos com um corte juvenil e bem contemporâneo, curtos,  alvos e sem tinturas, pele branca e levemente envelhecida sinalizando a idade, estatura mediana, vestia-se muito sobriamente, cheirosa, alegre e extremamente lúcida ela falava de sua vida com a maior alegria. Relatando as suas magnificas histórias vividas no transcorrer de sua trajetória.

 

E que para ela, eram e foram muito significativas e muito bem vividas.

 

Assim ela ia falando: - fiquei órfã ainda quando era um bebê e fui criada pelos meus avós maternos.

 

Eram famílias numerosas e desde muito cedo aprendi a fazer de tudo um pouco, desde arar a terra, ordenhar as vacas, plantar, colher, cozinhar e a fazer todos os afazeres domésticos e nos derredores de uma fazenda.

 

Havia mais homens do que mulheres. Então nós, as mulheres, meninas, tínhamos que nos desdobrarmos para fazer todos os afazeres domésticos e nos arredores... Limpar, cozinhar, cuidar das criações, plantar, arar, colher.... Enfim... Uma época extremamente patriarcal...

 

Tudo tinha que estar conforme as ordens e os costumes dos mais velhos. Em especial dos homens. Como dizia ela: era um terror... Jamais podíamos sentar ou contestar sob os olhares condenatórios “deles”, os mais velhos. Desde limpar as botinas e a comida estar no ponto certo. Nem frio, nem quente, caso contrário, castigos... Isso ela não falou quais eram...

 

No entanto, ela sorria quando relatava das aventuras que fazia ao cavalgar com seu cavalo branco.

 

Depois que ordenhava as vacas e entregava o leite para as madames e as suas criancinhas, ela e seu cavalo branco sentiam-se livres e burlavam quaisquer obstáculos para passearem nas matas adentro. Sentiam-se livres...

 

Eram momentos de muita alegria, sem contar quando ela subia nas árvores frutíferas para saborear as frutas deliciosas de que até hoje ela gosta muito. Pêssegos, uvas, ameixas amarelas, guabirobas, peras...   E diz, sentir o sabor e o cheiro quando vai comer.  Mas, não é mais o mesmo... “Saudosismo” ...

 

O que mais ela ressaltava nesta prosa: - como é bom ser mulher nos dias de hoje, poder colher flores e sem tantas opressões e castigos... Isso foi real. Só para refletir!

 

 

Texto e imagem: Miriam Carmignan

Prosa poética- Mulheres...