Abalo

Melhor desaguar em algo feito de concreto. Evita as profundezas. Água corre superfície afora. Leva embora. Traz esquecimento. Tristeza seca e segue em frente, altiva, pelas frestas do cotidiano. Sorriso disfarça as dores. Os pés queimam na areia dos desertos da alma. Felicidade demais embaça as vistas. Feito paixão que nos cega para os critérios lógicos da razão. Se a lágrima transbordasse no fundo do mar, sedimentaria mágoas no abissal. Águas revoltas trariam tudo à tona. Melhor ir em frente colhendo a positividade da moda. Gratidão antes de tudo. Foco nas coisas boas. Clichês acalmam o ego torturado. Alma anestesiada. Um pouco do sono profundo dos séculos pode ser bálsamo. Me desconectei de tanta coisa que eu tanto amava. A poesia é o único, tênue, suave fio que me mantém desperta na essência. Traz a noção perfeita de que algo genuinamente meu ainda me habita. Nem tudo está perdido. Apego mais besta! O mundo é fluido! Águas. Mares. Risos. Nada estável além do que escorre pelo tempo. E desfaz. Renasce. Reconstrói. Recomeça. Melhor derramar remorsos onde a água segue intacta, nada transmuta. Olhos atentos à possibilidade do que tem para hoje. O baile segue na dança dos dias. Dance, dance, dance!

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 07/03/2024
Código do texto: T8014539
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