Diluído

Tempos estranhos esses... deixar tudo ficar subentendido.

É tudo muito superficial...e raso também.

Estamos presos numa carcaça dura e impermeável...

Não sei se nos protege ou se nos faz refém, desconheço que seja confiável.

Há tempos não nos enxergamos mais frente ao espelho... estamos por trás das telas, por trás das máscaras, nos escondemos por detrás das selfies, dos filtros, nem reconhecemos mais nossa própria face e o que dirá as dos outros...

Acostumamo-nos a mergulhar e dar de cara com o fundo... com o lodo impregnado, sujeiras escondidas, ignoradas... acostumamo-nos com areias... escapando entre os dedos... desapegadas... algumas, movediças, prendendo-nos... roubando nossa liberdade e a nossa paz... outras de tão ásperas ferem a nossa pele... nos julgamos incólumes e ignoramos tudo ao nosso redor, inclusive placas de avisos; seguir ferido cansa menos, mais fácil que ter de estancar feridas, mais fácil que tentar curá-las... mas hoje em dia tudo se repele ... nada mais se adere, ao menos não por muito tempo... somos atraídos mas logo o efeito passa... nada de tão atraente assim, depende da "vibe" do momento ou da nossa carência inata... estaríamos com os sentidos dormentes?... acostumados a não sentirmo-nos apegados com nada?... ficando só de longe admirando o MAR sem nele nos banhar... mesmo sedentos de vontade de a(MAR)... deixamos vontades passarem!... fazemos isso apreensivos e sem ninguém notar... sem tomar nota que neste MAR podemos nos aventurar, avançar ou recuar; no entanto, preferimos ficar sentados na areia, admirando tudo de longe... apenas estagnados e prostrados... colecionando lamúrias?!... escrevendo-as para não saturar ouvidos alheios?... alheios que somos... enquanto o tempo tira proveito dessa distração, pois ele não perdoa, não dá explicações... só passa... e parece dar amplitude para esses tempos de liquidez... ele não aguarda a nossa vez!... não compactua com a morbidez, embora a incite... contudo, é implacável: devora-nos!

Tempos de insensatez abissal!

Mas quem se importa?...

E tudo permanece, exatamente igual.

Fênix Arte
Enviado por Fênix Arte em 13/02/2024
Código do texto: T7998053
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