Quali-signo

Estava escuro, não um escuro sólido e único, e sim uma mistura de vários outros. Por um segundo pequeno, menor do que os outros, ontem me encontrei sem forma. Me olhei e não me vi.

Senti medo, solidão.

Foi como se a sombra que aparece do corpo e é própria das coisas vivas, não me estivesse mais, como se meu corpo fosse uma mera lembrança, não solidez, nem carne, fosse agora um contorno finíssimo, percepção

Meus pensamentos, já sem referencial, se repetiam e se perdiam antes mesmo de começar, assim como eu mesmo. Aquela essência que dizemos sempre quando alguém pergunta:

"Mas e você, quem é você? Se fosse pra definir em uma palavra"

Isso tinha se perdido. Por um instante pequenininho, eu sequer sabia o que era uma palavra, muito menos uma que dissesse algo sobre mim. Coisa que, achamos, pode nos descrever em perfeição, mas sempre escorrega, esbarra em outro sentido.

Quer dizer então que eu, não sou eu? Sou uma comparação com outra coisa? Um sinal sonoro e, pior ainda, a capacidade do outro de entendê-lo, interpretar.

E aí eu toquei no interruptor do quarto, me levantei, acendi a luz.