O vazio e o tédio

Do vazio e do tédio, há quanto tempo para fugirmos? O quanto hei de fazer? O quanto hei de produzir? Mas uma coisa é certa, há do vazio e o tédio nos atingir. É a fuga do tédio que traz mais angústia e inesperadamente mais tédio. Como bem nos aconselha Pascal, com ela devemos nos tornar, pois há sempre de o vazio e o tédio nos atingir. Eis, pois, a nossa condição ontológica, a de ser um ser angustiado a exprimir-se em fuga _ do vazio e do tédio _ até o fim. Fim este, certo e inevitável. Mas a vontade a de ser cega e incontrolável? Bem, eu não sei... mas haverá a qualquer momento o fato de que o vazio e o tédio nos atingiu.

O ser e o nada se harmonizam, pois não há nada que seja existente e concomitantemente tenha um ser imutável. O inominável e o indefinido são as musas a pairar no nosso canto e observar a nossa dança; não há nada que já não saibas e quem saberá o que sabemos ainda está por vir. Ou estão, pois não tenho tanta ânsia pelo mito ou pelo símbolo. Para mim, ser é estando e estando eu em tudo basta-me. Concluo em todas as coisas e todas as coisas possuem-me, eu sei e é isso (sic). Quanto a ti, porquanto, nada... há, portanto, um abismo entre mim e o Outro. Sei que sabes muito bem que o meu destino é estar aprisionado em uma ilha de tudo saber e ser, mesmo que não saiba a mim mesmo. Contudo, o todo é impossível, pois sequer a somatória dos fatos particulares resultam no todo; és sempre maior que tudo. Mas não perco-me. Desconheço-me em relação ao sentido estrito do termo "conhecer", nesta "perspectiva" a sua contraposição sempre é mais certa que qualquer coisa.

Duvido de tudo, como duvido de mim mesmo. E a renúncia dúbia que resta defronte toda a existência é a melancolia de tudo saber e nada dizer em fonética. A minha boca foi selada por um destino mórbido, entregue aos demônios e aos abutres; fonte de energia gélida, mais gélida que o bater das asas do diabo de Dante e mais incerta que o relativismo de Protágoras e o ceticismo de Pirro. Além do mais, mais enganosa que a retórica de Górgias. Sois agora, homens, apenas pequenos pássaros a diminuir um não-ser que encontra-se à vista fisicamente da tua visão estúpida, mesquinha e ordinária. Digo, conquanto, sou um Ulisses a ensaiar um engano, o maior de todos eles... para apenas dizer, sou...

E nisto tudo encontrei-me: na renúncia certíssima de tudo e a certeza de que a inclinação natural é a propensão de todos os seres a sua melhor versão, a lapidação contínua da pedra bruta, a transformação do chumbo em ouro. Sempre fui e sempre estive em tudo calado. Mas sempre sofri, pela maioria, da mesma predisposição sádica e perversa de um esmagar justo, um ato que afirma-se justo, porém, agora somado está com os novos ideais em si vazios e em infinitas modas fundadas no niilismo reativo, digo, daquela cultura do despertar para uma práxis análoga e com um discurso análogo ao do extermínio em massa.

Esta é a finalidade de todas as coisas: serem. E nisto reside a sabedoria ou o logos. A minha causa final por definição a mim somente pertence, logo, se faço sou, pois em todo ato pressupõe-se anteriormente a potência. De outra forma, o ato é a prova por excelência de que a potência jaz. E a causa primeira será, porventura, uma “aposta” para muitos ao tentarem explicar a minha causa eficiente? Esse é, pois, um segredo que não sabes. E quem haverá de saber um dia? Pergunto, o que já sabes? Estais a utilizar assertivamente ou conscientemente o vocábulo “saber”? Bem, a mim não pertence mais nada, apenas fazer e nisso eu sublimo os dilemas que me constroem e que são, a priori, intencionados a me devastar.

~ Silentium consumit me et gaudeo, haec est labyrintha mea.

Darach
Enviado por Darach em 21/12/2023
Código do texto: T7959165
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