Um duplo

E aqui nos encontramos de novo caro reflexo,

rememorando histórias antigas e atuais,

vendo as marcas do tempo e do sofrimento,

vivendo essa iluminação nas sombras,

nos olhando nesse espelho de almas trocadas,

eu sempre fui você em cada palavra,

em cada transbordamento de sensações,

em cada gosto musical singular,

em cada olhar sincero de amor,

em cada sonho e imaginação,

uma autoimagem interna que apaixona,

uma autoimagem externa que repele,

em um mundo onde falam amar a essência,

mas só se prendem nas aparências,

embora sejamos um duplo, o mesmo,

alinhavados em cada borda e viés,

esse dentro e fora, esse verso e reverso,

da acidez à doçura, do pessimismo à persistência,

da teimosia à delicadeza, da extroversão à timidez,

da fragilidade à fortaleza, da alegria à tristeza,

da melancolia à esperança, das lágrimas ao sorriso,

no antagonismo antissocial e sociável,

estamos juntos nessa caminhada solitária,

nos entregamos e amamos como nunca antes,

expomos os sentimentos, abrimos o coração,

saltamos no mar profundo e mergulhamos sem medo,

mas quem nos vê de longe é tão míope e raso,

não é capaz de nos conectar e forjar um em dois,

mente estreita, visão de mundo confusa,

navegando sem destino, errando as rotas,

somente nos acenou com uma falsa oportunidade,

mas nos partiu em mil pedaços difíceis de colar,

contudo, sempre fomos um quebra-cabeças,

um enigma para almas intensas e merecedoras,

não somos para os medrosos e cheios de incertezas,

não pertencemos aos pequenos de sentidos,

nem devemos nada aos pobres de significado,

se não são capazes de nos aceitar como um duplo,

não têm permissão no embarque da nossa grande jornada.