Era uma vez um sonho de natal

Quando menina, sonhava em montar uma árvore bem bonita, como nos filmes: bem grande, cheia e colorida, cheia de luzes, enfeites e pisca-pisca...

Sonhava com meias natalinas penduradas, com o nome de cada pessoa da família...

Sonhava com toalhas de mesa, cortinas, almofadas e guardanapos todos enfeitados... Para onde olhasse, enxergasse o mês mais esperado.

Sonhava com a família reunida para ceiar, todos se amando e lembrando o verdadeiro motivo para comemorar.

Cresci.

Menina não sou mais.

Por mais motivos que eu tente encontrar para o sonho de menina vivo ficar, mais motivos dão para ele se findar.

Natal é comércio.

Famílias estão desfeitas.

A leveza e diversão de se montar uma árvore não existe mais. Tudo é estética, tudo é padrão. "- As cores não combinam."; "- As bolinhas não harmonizam."; "- Esse enfeite não se usa mais.". Tudo é pode ou não pode.

Aos 28 anos, só montei 3 vezes árvores de natal. A primeira vez foi em 2020, tinha acabado de casar, montei logo no início de novembro de tão ansiosa e empolgada que estava. Pedi para o meu ex-marido participar do processo, queria compartilhar aquele momento com ele, mas era mais importante para ele jogar vídeo game, fiquei decepcionada, mas montei a minha árvore. Com todos os enfeites cores e bolinhas que eu tinha comprado. Achei pouco. Queria muito mais enfeites, muito mais cores, muito mais luzes, muito mais tudo.

No ano seguinte o processo repetiu, novamente montei sozinha, mesmo tendo deixado claro para o meu ex-marido como a participação dele era importante para mim. Dessa vez deixei para a última hora, a árvore ficou montada só dois dias, porque nesse ano eu ganhei algumas calopsitas que ficavam soltas e comiam os enfeites e árvores.

No ano passado em desisti de montar a árvore e de comemorar o natal, tudo estava caótico, desmoronando. Foi a primeira vez que passei o natal longe de tudo e de todos e percebi que o natal era um dia como qualquer outro.

Esse ano não sei como será. Tudo mudou. Me sinto perdida e vulnerável. Novamente estou longe, mas dessa vez por um outro motivo. Não tenho mais um lugar para voltar, afinal, não tenho casa. Não tenho motivos para passar ao lado de quem passava antes, porque dessa vez eu cresci e esse crescimento me fez ver que é melhor estar longe de quem me machuca do que fingir que está tudo bem. Dessa vez nada será como eu planejei, na verdade, não tenho nada planejado, só estou seguindo o que planejaram. Não gesto de desespero, de deixar tudo para trás, quando arrumava as minhas coisas para sair de casa, me desfiz dos meus enfeites de natal, me arrependo amargamente disso, pois comprei todos com muito carinho e custo, escolhi a dedo cada um e dói saber que tive a atitude impulsiva de deixá-los para trás, como se isso pudesse apagar toda a dor que o divórcio me causou.

Não sei se um dia realizarei o sonho do meu eu criança, mas hoje sei que a minha criança ainda é motivo de piada, piada por ser exagerada, por ser colorida, por ser brilhante, por só querer aproveitar os momentos que não pode aproveitar quando pequena: montar uma árvore de natal.

Karoliny Mesquita
Enviado por Karoliny Mesquita em 28/11/2023
Código do texto: T7942735
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.