MEU PRIMEIRO AMOR

No ano de 1963, eu tinha a idade do meu neto João hoje, 15 para 16 anos, faço aniversário em dezembro.

Pela primeira vez na minha vida eu estava perdidamente apaixonado por uma menina de nome Norma, ela morava na Rua Batista do Carmo, composta por apenas 2 pequenos quarteirões, que liga o Jardim da Aclimação a Av Lacerda Franco. A casa era um sobradinho localizado no meio do último quarteirão próximo ao Jardim.

Essa rua cruza a Paulo Orozimbo, e eu ficava na esquina das duas, sentado sobre uma mureta de uma casa de pedra não sei se ainda existe, e ela ficava na sacada da sua casa. Ficávamos nos olhando a tarde inteira até a hora de eu ir para casa tomar banho, jantar, e me preparar para a escola na manhã seguinte. Eu morava na Heitor Peixoto, rua paralela a dela também no último quarteirão, terminando no Jardim.

Ela frequentava a escola na parte da manhã, estudava no colégio São José, aquele do uniforme marrom, na Rua da Glória, próximo ao centro da cidade, e eu no mesmo período, no Anglo Latino, na R Muniz de Souza, no próprio bairro. O Anglo fechou, o S José não sei. Como era de padres e muito tradicional, deve continuar até hoje. Talvez em outro lugar.

Era rotina chegar da escola e depois do almoço, eu corria para sentar na mureta na esquina, e ela fazia seus deveres escolares na sacada da sua casa para ficar me olhando, eu um menino perdidamente apaixonado, ela era a mulher mais linda que eu havia visto na minha vida até então. Foi nesse momento que comecei a conhecer o que é o amor.

Essa situação durou meses e meses, fazia chuva, sol, eu não saia daquela mureta.

Um dia meu amigo que namorava a amiga dela, se propôs a marcar um encontro entre mim e ela, ele combinaria para ela esperar na esquina em que eu ficava do outro lado da rua. E assim aconteceu, ela chegou na hora combinada, olhou para mim e ficou me esperando eu me aproximar, eu só precisava atravessar a rua para falar com ela, e na hora H entrei em pânico, não conseguia me mover, fiquei paralisado de emoção. Eu sempre fui muito tímido, depois durante a vida a gente aprende a dominar a timidez, mas jamais deixa de ser tímido.

Tinha a impressão que se eu descesse da calçada e pisasse na rua, não conseguiria atravessá-la e chegar até ela, e se chegasse, minha mente estava tão conturbada que não conseguiria expressar uma palavra.

Eu fiquei estático em um lado da rua e ela do outro me esperando, ficamos assim nos olhando durante uma meia hora, até ela desistir, me deu um sorriso e voltou para casa.

Eu a vi se afastando e com uma imensa dor na alma voltei a respirar normalmente, fui para a minha casa, entrei no meu quarto, e tive um acesso de choro incontrolável pela minha covardia.

Nunca mais voltei aquela esquina.

Naquele dia jurei para mim mesmo que jamais voltaria a fazer um papel tão ridículo e covarde com uma mulher como fiz a ela.

Depois de alguns anos a encontrei numa festa na casa de um amigo em comum, já éramos dois adultos, na hora eu a reconheci e ela a mim, meu coração disparou, agimos como se não nos conhecêssemos, o amor daqueles dois adolescentes de então havia ficado no passado. Depois desse dia nunca mais a vi. Muitas vezes na minha vida voltei aquela esquina para não esquecer o quanto eu amei aquela menina, e lembrar como é amar na tenra idade.

Enquanto eu ficava na esquina sobre a mureta, na casa havia sempre um rádio ligado, provavelmente da empregada, e a música que fazia muito sucesso, já no começo do ano de 1964 e tocava toda hora era “Tudo de Mim” com o cantor Altemar Dutra, naquele tempo não era meu tipo de música predileto, mas ouvi tanto que até hoje quando a ouço, lembro do meu primeiro grande amor.

Eu escrevo enquanto tenho memória, de uma hora para outra posso esquecer que eu ainda existo.

Duda Menfer
Enviado por Duda Menfer em 12/11/2023
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