Gota estática

Uma gota brotou do vitral ocular.

Todavia, esta ficou receosa, não quis cair como outrora, onde fora prelúdio de uma inundação.

Num ímpeto de lucidez, refreou-se.

Ficou por ali, estática... sem pretensão alguma. Enquanto isso, pensamentos fervilhavam naquela mente divagante... que se via forçada a recobrar com veemência sua autoestima.

Recordara-se do tempo perdido colhendo lágrimas e lástimas, o que só serviu para seguir se ferindo e diminuindo também ... havia superado seu tempo de martírio, não pretendia revivenciá-lo.

Depois de romper as barreiras do próprio ser, não tem mais como atrofiar e nem recuar, feito borboletas que superaram o casulo e o tempo de lagartas... impossível reverter a metamorfose. Era ilógico- pensou abruptamente; precisava apenas manter-se forte para vencer pensamentos auto sabotadores, então seguir adiante, radiante e confiante.

Uma vez que descobriu seu amor próprio, precisou caminhar de mãos dadas com ele.

Enxugou sua gota estática e resistiu às emoções que rodeavam sua cabeça, qual fossem nuvens carregadas espreitando momento oportuno de extrema vulnerabilidade para desabar suas águas... como bem fazem as chuvas torrenciais.

Mas hoje não... não por ora, debruçou- se sobre a janela e contemplou o despontar da linda aurora, que num súbito cativou-a amorosa(mente). Convidou-se para despertar de vez... num deleite de solitude, decidiu a-cor-dar... saiu a coloRIR o dia... munida de paletas de cores cocriadas pela sensibilidade do seu olhar. Por mais que os desafios sobreviessem, ela aprendera sozinha a se encantar com a vida e entendia a efemeridade das coisas, nada poderia perdurar... e se nada é perene, fosse o bom ou ruim... o bem ou o mal... o vital era reverenciar o intervalo entre um fato e outro, e as melhores lições saber retirar de qualquer situação. Cada choro conta uma estória, expressa um sentimento, revela uma emoção... logo concluiu: cada gota conta... bastou um resquício de gota para elucidar-se.