Basti(dores)

Eu devia ter olhado bem no fundo dos teus olhos... ter buscado aquela fresta que só a luz revela. No entanto, atentei-me somente ao teu sorriso, qual fosse sol, fiquei seduzida e deixei minh'alma inundar em suas luzes contagiantes... eu só que(ria) um pouco de calor para sentir-me viva. Abri meu coração, trancado há anos. Deixei você entrar e nele repousar... abri as janelas para arejar... embora tua presença o fazia pulsar descompassado. Supondo alguma intimidade, te mostrei minhas feridas, algumas ainda purulentas. Achei que você poderia ajudar a curá-las ou ao menos soprar.

Para piorar, te revelei todos meus segredos... só nessas horas seus ouvidos ouviam... decerto para usá-los contra mim.

Com o tempo tua máscara foi caindo e eu pude deparar-me com tua face dissimulada. Não atentei -me às evidências, talvez elas pudessem nortear meus caminhos.

Não te culpo, culpo somente a mim mesma.

A carência afetiva é uma ferida que achamos ter tempo para curar mais tarde, até que chega o "tarde demais". Provoca cegueira e nos deixa alta(mente) vulneráveis... imaginando coisas e pessoas, projeções mentais de uma mente prisioneira, que fantasia seu sonho de liberdade. Com as feridas abertas, tantas outras também, com meu coração estilhaçado e remoendo mágoas, tornei -me esse ser moribundo, caminhando à deriva, até achar uma saída; saindo de cena e voltando aos basti(dores), tratando das minhas dores... físicas e emocionais... letais. Afinal, não é lá que todos ensaiam antes de subir ao palco?... retornarei ao meu palco da vida... quiçá, isso possa dá vida... ou me devolvê-la.

Fênix Arte
Enviado por Fênix Arte em 08/09/2023
Código do texto: T7880631
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