se perder pra se achar

É difícil mesmo ver muitos palmos além do futuro, é difícil não se guiar pelo efêmero. Eu me desencontro sempre que tento me prever, é tiro e queda.

Tão logo os textos envelhecem, mal lembro que fui eu quem os disse na minha cabeça. É uma tarefinha ingrata essa de girar pelos próprios eixos, fazer raio x da própria cabeça, remanejar o outro dentro de si, sério. Terra revolvida nunca mais retorna pra onde foi. O mar fica bravo, as paredes ruinam-se, o tempo se esfria, lento.

Eu já esqueci das casas onde eu morei quando criança, tenho medo, bastante medo de esquecer por completo de tudo, de nunca ter sabido da argila de mim, se é que um dia eu soube. (Jovem tem essa mania mesmo, de achar que sabe que não sabe)aqui vai outro medo que descobri: O do meu passado sair pela boca dos outros, o de adiar o presente e desgovernar o futuro. Além de jovem com mania de esperteza, sou idiota, bobão.

Por isso escrevo, escrevo, escrevo. Pra curar o ontem, amansar o hoje, afastar o amanhã.

Painho diz que quando o assunto é relacionamento, se se doa demais, pouco se sobra. Diz do jeito dele, não poético assim, mas eu não ligo. Não ligo. Eu entendo o que ele quer dizer, deve ter alguma coisa ali que a vida ainda não me permitiu decifrar, uma auto-preservação, mas ainda assim não funciona pra mim. Fugir de si é fazer com que o que é rosto, vire máscara. Eu sei que vou sofrer, a eterna desventura de viver. Não é assim a letra?

Os amores são uma coisa a parte. Sempre vem junto com o migrar de mim, peregrinar até o outro. É o meu jeito de amar. Estúpido. A graça está sempre no aproximar, no revelar-,se, no rompante. Você se conhece, e tem tanto amor e carinho pelo outro, que existe em micro doses pra não assustar. E ama tanto o outro, que tem uma certezinha profunda de que nada mudaria caso visse a parte que ele ou ela pretende esconder.

Você tem calma no abraçar, e sabe que não vai tardar em na verdade, essa migração, esse longe de casa,

vir a ser retorno.