Solilóquio Transcendental

"Escrevo pelas mãos da vida que vive em todas as coisas o solilóquio silencioso do mistério existencial"

Ouço os passarinhos cantarolarem e meu coração desanuvia-se num dia ensolarado, esqueço-me do futuro incerto e deixo-me os sentidos livres para a música da vida que canta nos gritos de alegria das crianças que acabam de passar pela estrada, vestidas todas elas do dia que morre magistralmente num crepúsculo amarelo desmaiando para púrpura. As primeiras estrelas já começam a brilhar no abismo da minha consciência de as estar vendo, enquanto ouço a oração do padre que ora pelo rádio para a Virgem Maria que não creio. Silencio meus pensamentos e o universo me convida a abrir-me para a transcendência do mundo que, refletida no mistério da minha consciência, desperta em mim a impressão de uma presença silenciosa que preenche o vácuo do mundo com uma profunda paz sem sentido.

O crepúsculo dá lugar a noite eterna acendendo as estrelas que brilham como pirilampos no corpo cósmico de Deus. Ouço o batido de uma música que chega-me de algum canto não sei de onde embrulhada num misto de outros variados sons que ao meu redor compõem a paisagem de minha alma. O mundo se estende pela minha consciência e minha mente narra a poesia de ser tudo um único e mesmo mistério interno do Ser...

Sim, Eu Sou, através da impessoalidade do mundo o próprio mundo manifesto como projeção de mim mesmo. Um silêncio emudecedor inspira de todas as coisas a transcendência de tudo ser apenas um sonho no qual a solitude cósmica sustenta as estrelas que piscam no brilho dos meus olhos... A lua derrama seu espírito lívido sobre a paisagem que dorme inconsciente de sua existência enquanto nuvens sonolentas arrastam-se para lugar nenhum. Fico a observar silencioso o espetáculo do mundo que desagua no abismo de minha alma celestial. Um cachorro late em algum lugar que não vejo e desperta-me do sonho em que me contemplo a contemplar o absurdo milagre da existência, e volto a mim cheio de poesia que ganha corpo nestas palavras em que registro o devaneio de uma alma confundida e embrulhada ao mistério das estrelas que pulsam no coração cósmico do meu peito...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 18/07/2023
Reeditado em 18/07/2023
Código do texto: T7839517
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