Último Sentido
Faltava, apenas, te beijar,
Mas naquele dia foi preciso paciência.
O que tivemos elegantemente,
Até que o tempo nos desse o momento.
E na espera calma, de cada dia, deste,
Que viria a ser o último sentido,
Sonhar preenchia-me as horas.
Ter teus lábios nos meus,
Minha língua cobrindo a nudez da tua
E o frescor de tua boca
Misturando-se ao calor da minha,
Era a imagem repetida em minha mente
Em cada instante em que estivemos longe.
Faltava, apenas, te beijar
E no momento chegado pouco tempo depois,
De súbito, já estavas ali
Com tuas mãos a me pegar com força,
Repelindo qualquer pensamento de fuga,
Com teus olhos inquietos e atentos
Perdidos entre os meus e a minha boca,
Sem saber onde parar...
E relembrando agora o beijo,
Percebo que faltava mesmo te beijar
Para entender que jamais seria “apenas”,
Que o último sentido evocava a todos
Para que a essência de cada um
Formasse a plenitude daquele instante.
Quando fechei os olhos,
Pude ver-te inteira me chamando
E o teu cheiro cada vez mais próximo
Aumentava ainda mais minha visão.
Para ter teus lábios nos meus
Todo o meu corpo te tocou.
Escutei teu coração no meu peito
Quando, por fim, teu gosto fez-se presente
Com o sabor único e inconfundível do desejo.
Já era beijo mesmo, e éramos nós,
Num beijo-boca, beijo-língua,
Beijo-corpo, -olhos, -coração, -alma...
Beijo-gosto, -cheiro, -toque,
Beijo-som, beijo-visão, beijo-tudo...
Um misto de paz e agitação, calor e arrepio,
Tomou conta, de repente,
Crescendo, subindo, exacerbando os sentidos
Como se nossa pele faiscasse
Numa atração efervescente e mútua.
Faltava te beijar
E ter mais uma surpresa
Entre tantas da nossa história.
Ir outra vez além do sonho,
Descobrir uma nova expressão do carinho
Neste que contigo jamais seria “apenas”
E que fez-se chamar
Beijo-amor.