Arde no peito como pimenta
Lembrar a mãozinha fofa que afagavam as mamas enquanto sugava o líquido vital .
Olhar os quartos vazios, quando parece que foi ontem, que as suas costelas aqueciam um corpinho miniatura, a buscar segurança .
Pensar nas mãozinhas gordinhas, frágeis e suaves deslizando sua face , momento que a linguagem era reproduzida apenas em toque , balbucio ou choro.
Atestar que é verdade que os filhos crescem, esquecem os pais e vão embora .
Confirmar que no final das contas a relação de amor mais sincera e desprovida de interesse chega a um fim da convivência .
Comprovar que de toda dor que a vida promove essa e a mais difícil de entender e aceitar.
Que o adeus aos nossos pais não nos preparavam para o tchau, até logo, até las vistas ou adeus , aos nossos filhos .
Que não importa quão consciente sejamos de que um dia irão embora , na hora da partida vai doer como se nada soubessemos.
Descobrir que deu tudo em vida pra não ficar com nada além de recordações.
Que aqueles anos que a todo momento ouvia o chamado de mamãe, nunca será igual.
Que a intimidade, confiança e partilha se foi.
Compreender que a evolução humana foi prejudicial ao núcleo familiar .
E que de tudo feito, dito e toda doação da vida
por uma vida ficou no passado sem elos sem laços e encaixes .
E que um dos lados ficará com toda dor, saúdade e solidão enquanto o outro simplesmente vai ...
Que os almoços aos domingos com o cheiro de churrasco ficou no ar, virou memória olfativa , fumaça no espaço .
Descobrir que o barulho das briguinhas tolas são boas lembranças e que aquelas fraldas sujas sao belas imagens pra recordar.
Mas que sobrou a velha música suave , eternizada na memória .... O chamado cotidiano por Mamãe.