A Arte, e o Novo Tempo 26

Estaria, aquele jovem selvagem, deitado no colo do artista "mor", submetido ao processo catártico? Num estado de libertação psíquica, onde, ao final, terá conseguido superar seus medos, traumas e opressões, males adquiridos da interação do seu ser com a sociedade a qual pertencia, ou, quem sabe, aqueles que adquiriu da ancestralidade, pessoal e coletiva?

O artista principal, no palco, agora ao lado do jovem, que estava com a cabeça recostada em seu colo, os olhos semi cerrado, passa a falar numa interlocução segredosa ao jovem.

Murmuraria palavras, quase que sussurrando, deixando a plateia alheia ao que ocorria na cena

Haviam poucos ocupantes das cadeiras. Sala desértica.Muitos se retiraram por estarem dissonando com alta vibração e mistério que envolvia o enredo, efeito natural da natureza da harmonia, e dos contrários.

Assim, o protagonista, como um Hierofante, passou cochichar, no ouvido do pupilo, a fala lamuriosa:

----- Dionísio nasceu na noite, revelado de tochas, que apresentam seus sinais, que se ligam a Lua, ao mistério do orvalho, da umidade, da água da noite, que inspira os adeptos, com as flautas, e o vinho.

Foi considerado no mito, deus, não herói, morreu antes de nascer, gerado nas coxas de Zeus.

O artista numa postura reverencial, como que louvando o recém desperto jovem à vida interior. Na arte, no mundo místico que leva ao transcendente, leva carinhosamente ao chão, a cabeça do pupilo.

Ajoelha diante dele, beijando uma de suas mãos. Faz o rogo:

---- Que, na Seara do entusiasmo e do êxtase, tu não venhas perder-se, desviando seus impulsos para a perversão, surrupiando a Primogenitura conquistada, perdendo-se no desregramento, na maldição do avesso do mito , à drogadição, aos imunodepressores, drogas sintéticas de toda sorte, que o homem instintivo do seu tempo, denso de dores, tem inovado para fugir da dor de ser gente do mundo de coisas, hábil a manterem seres calcificados para o sentir das primícias, que aqui, inaugura na potência para o uso.

Carinhou os negros cabelos do selvagem, continuando o monólogo:

---Ser embriagado do Sagrado. Que seja está a sua vontade Suprema.

Que tu! não dilua-se no arquétipo que representar, trazendo seguro de volta, ao final do contracenar, pela vontade intrépida, a consciência pura imanente que herda. Sempre branca, lavada na água do discernimento, e da compreensão correta das coisas.

Nit, perdeu-se no Zaratrusta, não conseguiu descer das alturas. Muitos outros, célebres artistas da história, deixaram suas obras, fruto do contato com o numinoso, o vislumbre do Sagrado vivido em seus seres.

Contudo, perdidos, quando, do porto, quiseram adentrar nas profundezas oceânicas da realidade fenomênica fundamental da realidade, sem bússola.

O que farão, as pessoas do seu mundo! aquelas que são seus irmão na cidade, que convivem contigo nas dores e nas alegrias, que estão intrinsecamente emaranhadas contigo no trama tecido na vida, quando virem a ti como caminho de contactar com o Sagrado no palco, e, pouco depois, vê-lo afundar nos mistérios, sem volta, presa da loucura e da insensatez, de toda sorte de sequelas agregadas em seu ser, resultado do convívio com o lado sombra, sem estar empoderado do discernimento e da compreensão daquilo que atua.

Nunca esqueça do barco e dos remos, de onde estarão, quando retornar à superfície!

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 15/02/2023
Reeditado em 15/02/2023
Código do texto: T7719919
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