Sobre Partos e Partidas

Será que você não vê?

A vida está colapsando lá fora.

Rasgo minha própria carne para conhecer a qual criatura eu pertenço.

Queria ser mais dela...

Não só imaginar qual o odor de suas vísceras,

Quanto a gravidade de suas garras,

E tamanho o seu instinto venenoso...

O que nos custa a entender que nós os possuímos?

Não é só humana a alma. O que a gente haveria de ser?

Quais segredos aguardam nos limites de nosso lodo mental?

O que nos foi obscurecido da vista?

O que é isto que vejo com os poros da pele?

Qual espécie de Sol arde mais aqui dentro?

De onde vem a voz que me diz? Por que escolhe seu hálito sem som?

A vida queima numa longa noite violenta.

E junto a ela,

Eu queimo também. Você não vê?

Me faltaram pulmões para soprar o sal da dor.

Meus olhos, carregados de maré e tempestade.

Meu coração,

O túmulo-húmus da montanha engravidada de si mesma.

Quando é que eu vou me parir?